ERROS E DEFORMAÇÕES - CARLOS CHAGAS

Antônio Assis
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Com todo o respeito, mas o ex-presidente Fernando Henrique perdeu excelente oportunidade de ficar calado, quando compareceu a uma solenidade na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, esta semana.  Porque declarou que as práticas políticas brasileiras são erradas e deformadas, acrescentando ter havido regressão para a República Velha, durante o governo Lula.

Na República Velha, governo não perdia eleição. Trocava-se o presidente de plantão através de acordos celebrados na cúpula das elites, geralmente paulistas e  mineiras.

Ora, quem deformou mais as instituições do que o próprio FHC ao mudar as regras do jogo depois dele começado? Quem arrancou  do Congresso a emenda da reeleição,  inclusive apelando para métodos fisiológicos, beneficiando-se quando o lógico seria aprovar a mudança para o próximo período presidencial, não o dele? Mas fez mais: a reforma  constitucional por ele patrocinada permitiu-lhe disputar o segundo mandato no exercício do primeiro, sem desincompatibilização. Quer dizer, com a caneta e o Diário Oficial na mão.

Mais do que uma prática errada, aquela veio contaminada de má-fé. De um casuísmo digno do período militar quando,  para não perder o poder, seus detentores  alteravam as instituições e as leis por atos de força. Ou terá sido democrático o estabelecimento da reeleição?

Não pode ser negada a conquista de metas sensíveis durante os oito anos de Fernando Henrique, mas essa mancha ele carregará em sua biografia. Erros e deformações, ele os cometeu.

PAÍS RICO É ASSIM  MESMO

A prática é de mais da metade do Congresso chegar a Brasília às terças-feiras, pela manhã, retornando a seus estados na quintas-feiras à tarde. Um excesso de folga que limita as atividades legislativas a três dias incompletos  por semana. Fica pior quando se registra um feriado no meio  desse período, como agora.  Amanhã, quinta-feira,  transcorre um, religioso. O resultado é que, em grande número,  deputados e senadores rejeitaram a hipótese de chegar à Capital Federal  na terça-feira e retornar na quarta-feira. Melhor ficar em casa.

As atividades  parlamentares só serão mesmo interrompidas na sexta-feira, mas no começo da semana  funcionaram  de mentirinha.  Os plenários foram abertos,  mas sem nada de importante para debater ou votar. As comissões técnicas se reuniram,  a maioria sem quorum, dedicando-se a  enxugar gelo. País rico é assim mesmo...

QUE MÃE É ESSA? 

Em entrevista concedida a Marília Gabriela, no SBT, o cantor  Amado Batista mostrou-se em dia com o mundo da música popular,  mas um troglodita no reino da política.  Porque reconhecendo haver sido torturado nos anos bicudos da ditadura, justificou os choques elétricos  recebidos, e as horas  passadas  no pau-de-arara, como uma correção imposta pelas  mães   a seus filhos peraltas. São concepções assim que envergonham a memória nacional. Se existir uma só mãe capaz de tratar  seus filhos desse jeito,  melhor interditá-la e  interná-la num manicômio permanente.

MINISTROS E MINISTROS

Dos 39 ministros evoluindo em torno da presidente Dilma, pelo menos vinte serão candidatos às eleições do ano que vem. Uns para renovar mandatos de deputado e senador, outros para tentar governos estaduais e alguns, também,  tentados a iniciar carreiras políticas. Há os que hesitam, não se tendo definido até agora. Mesmo assim, nota-se óbvia divisão na Esplanada dos Ministérios: os ministros que já dedicam parte de seu tempo a projetar o futuro eleitoral e os ministros empenhados em dar o máximo de seus esforços com vistas a permanecer no segundo mandato. Fugindo à tentação de fulanizar uns e outros, basta observar como se desenvolve a administração federal, período que mais se agravará até abril de 2014, quando vence o prazo para as desincompatibilizações. Há quem imagine a presidente Dilma pensando em antecipar essa dicotomia.

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