Carlos Chagas
É difícil, escarpada e cheia de pedras e espinhos a trajetória do PT no rumo da renovação. Quando parecia superada a etapa de conquistar o inconquistável, que seria a defesa dos réus do mensalão, depois de estabelecida a premissa de que o partido já fizera tudo o que podia ser feito, acontece o quê? O refluxo azedo da posse de José Genoíno como deputado. Está sendo tudo renovado e revirado, sem que os companheiros possam, ao menos de público, exprimir sua reação ao retrocesso. Ninguém, no partido, ousará criticar o ex-presidente da legenda, mas todos, sem exceção, lamentam seu gesto. Abre-se de novo a ferida que ameaçava cicatrizar. Será que vão desanimar?
A PRIMEIRA BOMBA
Não se trata de uma bomba de alto poder explosivo, até porque seu detonador só vai funcionar a partir de fevereiro. Mesmo assim, algum barulho se ouvirá caso o futuro presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, confirme declarações de ontem, sobre estar disposto a não cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal que fixou a cassação automática dos deputados condenados pelo mensalão. Essa é a mesma posição do presidente que sai, Marco Maia, ou seja, os quatro mensaleiros continuarão deputados até que o plenário, por maioria absoluta, casse os seus mandatos.
Traduzindo: mesmo depois de transitadas em julgado as sentenças contra os condenados, e ainda que tenham decretada sua prisão, Pedro Henry, Valdemar da Costa Neto, João Paulo Cunha e agora José Genoíno não perderão automaticamente seus mandatos. Só depois de aberto processo no Conselho de Ética, com direito a ampla defesa e, em seguida votação nominal e secreta pelos 513 deputados. Apenas pela maioria absoluta serão cassados.
E se não forem? Caso a Câmara decida pela inexistência de provas capazes de afastá-los, como ficará o Supremo Tribunal Federal, que os condenou e encontra-se prestes a decretar-lhes a prisão? Como desde a proclamação da República não há mais o Poder Moderador no país, ninguém espere iniciativas por parte do Executivo. Legislativo e Judiciário estarão em guerra.