Maiores doadoras somam gasto de R$ 1 bilhão desde 2002

Antônio Assis
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Paulo Gama
Folha de São Paulo

As dez empresas que mais doaram nas eleições dos últimos dez anos desembolsaram mais de R$ 1 bilhão para financiar as campanhas de candidatos no país inteiro. 

Nesse grupo há cinco construtoras, três bancos, um frigorífico e uma metalúrgica. 


Análise: Concentração de doações mostra que poucos disputam eleição pra valer 


 O montante repassado por elas a políticos entre 2002 e 2012 é suficiente para bancar quinze campanhas semelhantes à que levou Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, a mais cara de 2012. Equivale também ao custo da reforma que prepara o estádio do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014. 

As quatro primeiras posições são de empreiteiras: Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão. 

Todas elas mantêm contratos vultosos com o poder público --em São Paulo, por exemplo, as quatro participaram do consórcio que executou parte da linha 4-amarela do metrô e a OAS venceu a disputa por dois lotes do trecho norte do Rodoanel. Editoria de Arte/Folhapress



Só em 2012 o governo federal pagou R$ 213 milhões diretamente à Camargo Corrêa, a maior parte por contratos com o Ministério dos Transportes. A Queiroz Galvão recebeu outros R$ 420 milhões da União, segundo o Portal da Transparência. 

Os números são de levantamento feito pela Folha nas prestações de contas de partidos, de comitês e dos cerca de 1,5 milhão de candidatos que concorreram a um cargo eletivo de 2002 a 2012. Os valores foram corrigidos pelo índice de inflação. Os dados são disponibilizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). 

A quinta empresa na lista é a JBS. Entre seus acionistas está o BNDES, banco público de fomento que detém cerca de um terço da empresa. 

Os outros líderes no levantamento são os bancos Alvorada (Bradesco), Itaú e BMG, a empreiteira UTC e a produtora de aço Gerdau.
 concentração 

A concentração das doações é ainda maior se forem considerados os grupos a que essas empresas pertencem, já que parte dos conglomerados divide as doações entre subsidiárias. É o caso do Bradesco, que, além das doações do Banco Alvorada, investiu por meio do Bankpar (R$ 18,3 milhões) e da Tempo Serviços (R$ 20 milhões). 

 Há também grupos que dividem as doações de maneira equilibrada: a Vale doou R$ 107 milhões via quatro empresas, e a Odebrecht, R$ 68 milhões por sua construtora e pela Braskem. 

 O volume de doações registradas cresce a partir de 2010. Isso porque, até 2008, apenas candidatos e comitês declaravam suas contas eleitorais. As doações aos partidos eram informadas, sem discriminação, junto à contabilidade geral da sigla no final do ano. 

 A Folha ouviu as empresas sobre diretrizes do financiamento eleitoral. 

 O Itaú informou ter uma política específica que determina que as doações sejam feitas por um único CNPJ e diretamente a candidatos. Os repasses são definidos por um comitê, que analisa seus históricos e plataformas. 

 A Gerdau diz que doa para "fortalecer a cidadania e impulsionar a evolução social e econômica". A Odebrecht, que faz doações "em prol da democracia e do desenvolvimento econômico e social". 

 A Vale afirmou que busca se manter "imparcial" e não faz doações, mas que empresas do grupo não estão impedidas. O Bradesco e a Queiroz Galvão não se pronunciaram. As outras empresas dizem apenas que as doações são feitas de acordo com a legislação eleitoral.

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