Distúrbios no Mali e na Argélia alarmam Europa

Antônio Assis
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Anne Palmers, de Gotemburgo, especial para o 247 - Uma crise multidimensional cresce com rapidez nos meios políticos, diplomáticos e militares na Europa. O ataque, das forças armadas argelinas ao grupo de terroristas islâmicos que  ocupou as instalações petrolíferas da Statoil – mega empresa associada à Noruega – colocou todas as defesas da União Europeia em estado de alerta.

Terroristas radicais islâmicos unidos a separatistas islâmicos que já ocupavam boa parte do norte do Mali invadiram ontem as instalações da Statoil e fizeram cerca de 40 reféns entre os funcionários e responsáveis pelas instalações, que são de diferentes nacionalidades. Um número ainda não bem definido de funcionários morreu durante a invasão. A maioria dos reféns é de nacionalidade norueguesa. Ao mesmo tempo, os terroristas mandaram uma mensagem ao resto do mundo: "Que os europeus paguem o resgate".

Até a noite de hoje, quinta-feira, os reféns estavam presos no interior da instalação petrolífera. Vários foram obrigados a carregar cinturões com bombas ao redor de seus próprios corpos, segundo as primeiras informações que puderam vazar. Alguns reféns conseguiram chamar suas respectivas embaixadas, para pedir socorro e informar o que estava acontecendo. Outros funcionários, não se sabe ainda quantos, correram em fuga para o deserto buscando escapar, primeiro ao ataque dos terroristas e segundo à intervenção militar do exército argelino.

Este episódio na verdade não constitui uma surpresa para a União Europeia. Depois da limpeza de piratas que infestavam o litoral da África do Leste, particularmente na costa da Somália e da Eritreia, os ultraislâmicos – como agora são chamados aqui – moveram suas fileiras para os desertos da Mauritânia e do Mali, com a intenção de criar assentamentos que seriam transformados em novos califados. Nesse processo, nos últimos meses eles ocuparam vastas áreas pouco povoadas desses dois países, obrigando a população local a viver sob as mais rigorosas leis ultraislâmicas. Desse corolário fazem parte punições sumárias como a mutilação de membros do corpo e a morte por apedrejamento.

O Mali, durante todo o ano passado, pediu ajuda militar à França – potência europeia que ocupou essa nação africana durante boa parte do século passado. Mas os franceses, que há uma semana começaram a mandar tropas, chegaram tarde ao Mali. Agora, toda a metade norte desse país, cujo território corresponde aos Estados de Minas Gerais e Bahia juntos, está sob o controle de um grupo de terroristas ligados à Al Qaeda. Armados até os dentes, seus arsenais foram abastecidos com armamento e munição roubados durante as recentes guerras civis na Líbia e na Tunísia.

Para a Europa, essa crise política, militar e social vem se juntar ao estresse provocado pela crise econômico-financeira.  A Noruega que, com a França, é o país europeu mais diretamente envolvido nesse novo conflito norte-africano, é membro da NATO – a Organização do Atlântico Norte – mas não faz parte da Comunidade Europeia. A França, por seu lado, é membro da NATO e é uma das nações líderes da Comunidade. A França já mandou assistência militar ao Mali, mas sabe-se que ela não está preparada para intervir também na Argélia – país que, como o Mali, penou durante décadas sob o controle colonialista francês durante o século passado.

A evolução do terrorismo na África é tema permanente da agenda política da União Europeia, embora nos últimos tempos ele tenha passado a um segundo plano face à grave problemática interna da maioria dos países europeus. Agora, subitamente, as coisas parecem ter mudado. Os europeus estão de orelhas em pé. Quem mais vai à África para tentar apagar o incêndio ateado pelos ultraislâmicos?

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