Sendo assim, importa buscar os contornos desse quadro já posto em exibição, mesmo sujeito a alterações nas cores e na forma.
Começando pela própria: com os índices de popularidade que detém, se permanecerem, Dilma ocupa a pole-position. É claro que em dois anos tudo pode mudar, mas se as eleições fossem hoje, ela seria vencedora. Dependendo, é óbvio de diversas condicionantes, a primeira delas de não sobrevir nenhuma crise fundamental na economia, desgastando seu governo. Outra, de ser desatado o nó que aperta o PT, de um lado sujeito às conseqüências do mensalão e similares. De outro, caso não se avolume entre os companheiros a frustração de estar no governo mas não ser governo, como há dois anos imaginaram. Cresce no partido a tendência de que se o Lula voltar em 2014, maiores horizontes se abrirão para nova etapa do condomínio por ele praticado com o PT e suspenso pela sucessora. Apesar dos elogios ainda esta semana feitos por ela ao partido, fica claro que quem governa é ela.
Passa-se então à segunda hipótese: se o Lula topar sua candidatura, seja para garantir a vitória, seja por não suportar permanecer no banco, Dilma será a primeira a apóia-lo. Não hesitará um minuto em ceder a vez a quem a fez presidente. Apesar dos percalços que se sucedem, o ex-presidente seria imbatível, ressalvados os imponderáveis.
Do lado oposto, indicam a lógica e o bom-senso que se os tucanos rejeitarem Aécio Neves, estarão condenados a transformar-se em urubus. Não há mais espaço, no PSDB, para candidatos como José Serra, Fernando Henrique e até Geraldo Alckmin, não obstante o esforço que o grupo paulista ainda faz para evitar os mineiros. O neto de Tancredo Neves enfrentará dificuldades profundas, a começar pela supremacia de Dilma ou do Lula, além da resistência dos caciques de seu próprio partido, mas se recuar estará confirmando o adágio de que o cavalo só passa uma vez encilhado na porta de casa. Já fala em libertar-se da sombra do conservadorismo, levantando a bandeira do desenvolvimento.
As pesquisas mais recentes fizeram justiça a Marina Silva, que nas simulações sucessórias perde apenas para Dilma Rousseff. O fato de encontrar-se sem partido é irrelevante, sempre aparecerá algum interessado nos milhões de votos que ela obteve nas eleições passadas. Estar bem mais à esquerda do PT e do governo exprime uma faca de dois gumes, mas é por aí que a ex-ministra do Meio Ambiente traçará seu roteiro.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, precisa definir-se. Seu partido, o PSB, cresceu nas eleições municipais e seu nome é cada vez mais lembrado no Nordeste, como alternativa para a disputa entre companheiros e tucanos. Hesitará entre sua lealdade ao governo Dilma e o castigo de ficar quatro anos ao sol e ao sereno. Tem idade para esperar, mas oportunidade, ninguém sabe. Há quem suponha sua aliança com Aécio Neves, sendo lançado como vice-presidente, coisa que se prestaria à denominação de “chapa dos netos”, pois Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes.
Por último, nessa relação inicial, uma incógnita. Joaquim Barbosa pode transformar-se numa lembrança meteórica, daqui a alguns meses, mas hoje estaria classificado como opção viável. Sua atuação no processo do mensalão e na presidência do Supremo Tribunal Federal representa uma lufada de esperança para quantos refugam os políticos profissionais. Melhor aguardar.
RAIOS E APAGÕES
Com todo respeito, mas vamos discordar da presidente Dilma quando ela nega a influência dos raios na sucessão de apagões. Ainda na tarde do dia em que disse aos jornalistas credenciados no Planalto que raios não desligam o sistema de distribuição de energia, caiu um enorme, aqui em Brasília, seguido por uma trovoada para ninguém botar defeito. Apagou tudo, no Lago Sul, no Plano Piloto e adjacências. Minutos depois, a luz voltou, mas se o sistema não consegue ser apagado por raios, que diabo aconteceu?
É claro que na maioria dos apagões prevalecem as falhas humanas, como enfatizou a presidente. Seria preciso, até, investigar a coincidência das repetidas faltas de energia, às vezes atingindo metade do país, com a iniciativa do governo de baixar o preço das tarifas. Isso cheira a sabotagem, por parte das empresas que o sociólogo privatizou ...