Consumismo é Hábito que Começa Cedo

Antônio Assis
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Tatiana Notaro
Folha-PE
 
“Criança é um consumidor nato” é a primeira observação feita pelo professor de Marketing e Comportamento do Consumidor da Faculdade Boa Viagem (FBV), Paulo Roberto Silva. Antes de tudo, é um alerta aos pais, um aviso social de que é preciso controlar o impulso ao consumo desde cedo. Elas têm o “processo cognitivo aberto”, como explica o professor. Em outras palavras, quer dizer que os pequenos são totalmente influenciáveis por apelos exter­nos. É preciso educação e cui­dado para que isso não vire um problema em vários aspec­tos, inclusive financeiro. A fór­mula é (quase) infalível: cri­ança consumista, adulto idem.
Giovanna tem 8 anos e é um bom exemplo da capacidade de consumo que têm as crianças: possui celular, notebook, dois DS (“minigames” da Nitendo, para que os mais velhos entendam) e acaba de ganhar um iPad. A mãe, a empresária Juliana Lucena, conta que a menina aceitou trocar a festa de aniversário pelo “presente caro”. “Eu já tive outras festas, então preferi o iPad”, argumenta a criança. Juliana diz que tenta regular o acesso de Giovanna ao consumo, até porque a filha menor, Clara, de 3 anos, parece que “vai ser ainda mais consumista”. “Ela queria um iPad também, mas expliquei a ela que ainda é muito novinha”.

A mãe conta que Giovanna começou a receber R$ 20 por semana es­­te ano. “Gas­to com lanche, figurinha, mas guardo moedas no porqui­nho”, explica a menina. E, perguntada se acha que o dinheiro é sufici­ente para todos os gastos, Gio­vanna diz que sim. “Mi­nha mãe vai aumentar mi­nha mesada com o tempo, por­que tem que ter responsabi­li­­dade para ter mais dinheiro”, ana­lisa, séria. Foi com as sobras da mesada que Giovanna “ajudou” na compra do segundo DS. “O primeiro estava velho, porque eu ganhei quando tinha 6 anos”, justifica.


E, na tentativa de controlar o consumismo das crianças, Juliana diz que evita dar presentes caros fora de datas comemorativas e “quase sempre” resiste a dar mais dinheiro à filha mais velha, quando a “semanada” acaba antes do fim da semana. “Elas pedem tanto que a gente termina dando. Meu marido diz que eu cedo muito”, confessa a mãe, dizendo que é muito difícil negar os pedidos das crianças. “Se digo que não tem dinheiro, Giovanna diz logo: ‘passa no cartão’”.


Paulo Roberto Silva explica que, hoje, as crianças ficam independentes mais cedo, então é preciso mais cuidado por par­te dos pais. O professor lembra que o Brasil copiou o mode­lo norte-americano, “dife­rente do europeu, onde o con­­sumo, em geral, é menor”. Sil­va recomenda que os pais pro­curem dissociar o ato de con­sumir ao sentimento de bem estar. “É preciso que as cri­anças aprendam desde cedo a não ligar consumismo à felicidade”.

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