Tatiana Notaro
Folha-PE
“Criança
é um consumidor nato” é a primeira observação feita pelo professor de
Marketing e Comportamento do Consumidor da Faculdade Boa Viagem (FBV),
Paulo Roberto Silva. Antes de tudo, é um alerta aos pais, um aviso
social de que é preciso controlar o impulso ao consumo desde cedo. Elas
têm o “processo cognitivo aberto”, como explica o professor. Em outras
palavras, quer dizer que os pequenos são totalmente influenciáveis por
apelos externos. É preciso educação e cuidado para que isso não vire
um problema em vários aspectos, inclusive financeiro. A fórmula é
(quase) infalível: criança consumista, adulto idem.
Giovanna tem 8 anos e é um bom exemplo da capacidade de consumo que têm
as crianças: possui celular, notebook, dois DS (“minigames” da Nitendo,
para que os mais velhos entendam) e acaba de ganhar um iPad. A mãe, a
empresária Juliana Lucena, conta que a menina aceitou trocar a festa de
aniversário pelo “presente caro”. “Eu já tive outras festas, então
preferi o iPad”, argumenta a criança. Juliana diz que tenta regular o
acesso de Giovanna ao consumo, até porque a filha menor, Clara, de 3
anos, parece que “vai ser ainda mais consumista”. “Ela queria um iPad
também, mas expliquei a ela que ainda é muito novinha”.
A mãe conta que Giovanna começou a receber R$ 20 por semana este ano. “Gasto com lanche, figurinha, mas guardo moedas no porquinho”, explica a menina. E, perguntada se acha que o dinheiro é suficiente para todos os gastos, Giovanna diz que sim. “Minha mãe vai aumentar minha mesada com o tempo, porque tem que ter responsabilidade para ter mais dinheiro”, analisa, séria. Foi com as sobras da mesada que Giovanna “ajudou” na compra do segundo DS. “O primeiro estava velho, porque eu ganhei quando tinha 6 anos”, justifica.
E, na tentativa de controlar o consumismo das crianças, Juliana diz que evita dar presentes caros fora de datas comemorativas e “quase sempre” resiste a dar mais dinheiro à filha mais velha, quando a “semanada” acaba antes do fim da semana. “Elas pedem tanto que a gente termina dando. Meu marido diz que eu cedo muito”, confessa a mãe, dizendo que é muito difícil negar os pedidos das crianças. “Se digo que não tem dinheiro, Giovanna diz logo: ‘passa no cartão’”.
Paulo Roberto Silva explica que, hoje, as crianças ficam independentes mais cedo, então é preciso mais cuidado por parte dos pais. O professor lembra que o Brasil copiou o modelo norte-americano, “diferente do europeu, onde o consumo, em geral, é menor”. Silva recomenda que os pais procurem dissociar o ato de consumir ao sentimento de bem estar. “É preciso que as crianças aprendam desde cedo a não ligar consumismo à felicidade”.