Quarenta Anos Depois...

Antônio Assis
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João Bosco começou sua carreira entre os grandes em 1972. Primeiro recebeu a benção de Tom Jobim num compacto encartado no jornal “O Pasquim”, que tinha “Agnus sei” de um lado e “Águas de Março” do outro, conhecido como “O tom de Antônio Carlos Jobim e o tal de João Bosco”. Depois, ele teve uma das músicas escritas ao lado de seu eterno parceiro Aldir Blanc, “Bala com Bala”, gravada por Elis Regina, cantora que fez sua carreira deslanchar quando interpretou o bolero “Dois pra lá, dois pra cá”. A partir daí não parou de produzir sucessos em seus mais de vinte discos lançados, sempre em diálogo com os mestres da tradição e, especialmente, com os de sua própria geração. 

Assim sendo, para celebrar seus 40 anos de carreira como um dos compositores mais prolíficos do País, João Bosco gravou em fevereiro, durante apenas dois dias, “Quarenta anos depois” - CD (R$ 29,90) e um DVD (39,90) ao vivo -, revisitando os primeiros anos, as primeiras músicas e os compositores importantes para ele naquelas estações da primeira metade da década de 1970. Além disso, o artista será o grande homenageado do 23º Prêmio da Música Brasileira, no dia 13 de junho, em solenidade a ser realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 

“Bom, estava com esse projeto no meu pensamento há cerca de um ano, minha intenção era recriar um período, olhar de novo para uma época, pegando essas vinte músicas minhas ou de outros para trabalhar a concepção instrumental, pensar outras possibilidades para o arranjo, daí coincidiu com os quarenta anos de carreira”. Aliás, o artista sempre seguiu a linha de, como ele mesmo definiu, “emprestar várias músicas para intérpretes e pegar também emprestadas de compositores que admiro”. 

Por isso, ambos os produtos vêm recheados de canções escritas por ele e Aldir Blanc, Tom Jobim, Noel Rosa, Paulinho da Viola, além da presença, cantando ou tocando ao lado dele, de Milton Nascimento, Chico Buarque, Roberta Sá e do guitarrista Toninho Horta. “As parcerias saltaram na minha frente. Convidei Millton, por exemplo, para “Agnus Sei”, porque a música tem um lado barroco que me lembra muito Minas Gerais e Minas Gerais me lembra muito a amizade que desenvolvi com Milton ainda na década de 1970”. 

Mesmo torcendo para o Flamengo, a música “Bom Tempo”, última do DVD e cantada ao lado do tricolor Chico Buarque, foi escolhida por evocar o time do Fluminense, time de seu pai, de forma que procurou prestar uma homenagem ao seu patriarca através de uma aproximação esportiva ao lado do amigo. O cantor explica ainda que Aldir iria participar, mas como está com a saúde debilitada e toda a gravação no estúdio foi realizada ao vivo, praticamente em uma ou duas tomadas, o parceiro não se sentiu a vontade de entrar na equipe, mas esteve presente em toda concepção inicial. 

Já sobre sua relação com o passado e o atual momento da carreira, pensando em como repaginou o repertório, João Bosco comentou que “minha intenção era pensar como aquelas canções funcionavam atualmente. Apesar do DVD olhar inteiramente para o passado, estou seguindo para frente, ou seja, trabalho a ideia de passado com um olhar do presente. Não existe presente sem passado e o futuro é justamente o que você faz no presente com esse passado. Do ponto de vista histórico, o passado é indestrutível, olhar para o começo da década de 1970 claramente me remete às pessoas, amizades, ruas, cidades. Você se reencontra com tudo aquilo e é intenso”. 


Folha-PE

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