TÓQUIO - Crise mundial, iene valorizado, tsunami que arrebentou a cadeia de distribuição e enchentes na Tailândia que inundaram as fábricas. Esses fatores estão entre as razões do inferno astral, que atingiu o ápice com o anúncio de prejuízo anual de US$ 6,4 bilhões, atravessado pela Sony nos últimos anos. Nenhum deles é culpa da empresa, mas eles só explicam parte dos problemas da mais icônica marca japonesa. A Sony cometeu pecados capitais, avaliam analistas, e já não sabe como reinventar um império que vai dos eletrônicos aos estúdios de Hollywood. Seu maior erro foi não enxergar o futuro.
Amarrada por uma cultura corporativa burocrática, a companhia não foi capaz de prever as possibilidades da era digital, como fez a Apple — que, ironicamente, buscou inspiração nos produtos Sony. Ao casar hardware e software de maneira visionária, Steve Jobs começou a enterrar a época de ouro dos eletrônicos made in Japan com seu iPod, mandando o Walkman para o museu. Todos os produtos que vieram depois disso reforçaram a sensação de que a Sony está sempre um passo atrás da concorrência. A companhia, símbolo maior da ascensão do Japão no pós-guerra, perdeu o espírito revolucionário