Governador Valadares (MG): Antes, Choviam Dólares, Agora Saem Reais — Rumo aos EUA

Antônio Assis
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EX-FAZENDEIRO Ferreira vendeu a propriedade para salvar o irmão, que vive na Flórida (Foto: Leo Drumond / Nitro)

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Governador Valadares é a única cidade brasileira onde mendigo pede esmola em dólar. Era o que se dizia até há pouco tempo sobre o município do leste mineiro, cujos moradores há cinquenta anos emigram em massa para os Estados Unidos. Os primeiros zarparam em 1960. Desde então, estima-se que 30 000 valadarenses tenham partido atrás do sonho de conseguir emprego, fazer uma poupança e voltar para casa de bolso cheio.

A maioria mandava dinheiro para ajudar a família no Brasil, e ele era tanto que deu origem a uma espécie de nova moeda, logo apelidada de “valadólar”. No fim dos anos 90, Governador Valadares chegou a receber 70 milhões de dólares por ano em remessas do exterior — o equivalente a um terço do orçamento da prefeitura.
Na última década, no entanto, os dólares minguaram: hoje, chegam cerca de 10 milhões por ano. A razão da seca foi a crise internacional, que deixou bamba a economia americana. O resultado é que muitos valadarenses, que antes recebiam ajuda, agora precisam mandar dinheiro para auxiliar os familiares que estão fora do país.
A empresa dos irmãos nos EUA tinham 300 funcionários. Agora, são três
Foi o que aconteceu com André Ferreira. Ele viveu anos na Flórida, onde montou uma empresa de pintura com o irmão, Danilo. Em 2004, chegaram a ter 300 funcionários. Com o dinheiro ganho, André voltou para o Brasil e comprou uma fazenda. No ano passado, teve de vender a propriedade para salvar o irmão. Danilo continua nos Estados Unidos tocando a empresa, mas ela agora emprega apenas três pessoas.
“Consegui 800 000 reais, mas mandei metade para ele pagar dívidas. O mercado de pintura caiu muito. Tivemos de abrir mão de parte do que lucramos para tentar salvar o investimento”, diz André.
Outro que viu seus sonhos se desfazer no ar foi o técnico em telecomunicação José de Freitas. Em 2007, ele pediu demissão do emprego e foi para os Estados Unidos com a expectativa de ganhar o equivalente a 8 000 reais por mês. Nunca chegou perto da sua meta.
Remessas de dinheiro para os EUA aumentaram 300%
“Não conseguia nem pagar minhas despesas”, diz. Voltou para casa em 2009, mas, para isso, seu filho foi obrigado a vender o carro da família para lhe mandar 20 000 reais. “Hoje, ganha-se mais aqui do que lá”, afirma.
A contabilidade da Fitta Câmbio, a única casa de câmbio legalizada no município, atesta essa realidade: nos últimos três anos, as remessas de dinheiro de Valadares para os Estados Unidos aumentaram 300%.
No sentido inverso, o ingresso de moeda americana caiu 30%.
Adaptados à nova realidade, os mendigos valadarenses já aceitam de bom grado doações em reais.

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