Trágico e Cômico
Diogo Salles
É duplamente sintomático que a decisão sobre o aborto de fetos anencéfalos tenha parado nas mãos do STF. Primeiro porque mostra como essa história de “Brasil laico” é uma grande mentira e também como o debate sobre o aborto sempre foi controlado pelos religiosos. E segundo porque legislar é tarefa do congresso — e, de novo, o congresso não conseguiu votar a matéria porque esbarrou em sua própria covardia e incompetência para legislar sobre qualquer tema sensível à sociedade (ainda mais em ano eleitoral). Mas, pensando bem, foi melhor assim. Imagina o que a bancada evangélica faria? Posso até vê-los ameaçando outros parlamentares com rótulos como “assassinos de criancinhas”.
Falando sinceramente, me dá engulhos ler os “argumentos” dos religiosos tentando barrar uma medida que já deveria ter sido adotada há 50 anos. Fico enojado de ver como padres, bispos e carolas em geral se jactam como enviados de deus, olhando o mundo de cima, vomitando sempre a mesma pregação moralista e reacionária.
Enfim, fico feliz que o STF tenha decidido a favor da medida. Quando a igreja tenta interferir na vida das pessoas, é obrigação do estado agir para contê-la. Quem tinha toda a razão era Christopher Hitchens: “a religião envenena tudo” — e se não nos levantarmos contra suas monstruosidades e dogmatismos, continuaremos estagnados em suas ideias medievais.