As voltas que a política dá

Antônio Assis
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Luciano Siqueira

Nem sempre é fácil entender – pelo menos aos olhos dos simples mortais -, mas a política é mesmo a expressão institucional da vida como ela é. Por isso dá muitas voltas, como as voltas que a vida dá. É furta cor, em constante movimento, contraditória se vista apenas pelas aparências, mas nem tanto se compreendida em sua essência.
Alianças políticas tendo em vista o pleito municipal deste ano ocupam o centro das atenções na atual fase pré-eleitoral. Conjecturas, especulações. Partidos e personalidades que se estranhavam ontem admitem convergirem em torno de um mesmo projeto hoje. Interesses díspares, embora sobrevivam, cedem espaço a propósitos comuns, ainda que numa perspectiva apenas mediata. Nada de errado nisso. É o jogo natural das forças políticas.
Ontem o PT, por alguns dos seus próceres, emitiu juízo de valor condenatório em relação ao partido recém-fundado, o PSD. Hoje o virtual candidato petista à prefeitura da maior cidade do país, ex-ministro Fernando Hadad, se declara aberto a uma coligação com o partido do prefeito Kassab.
Da mesma forma, partidos solidamente aliados em plano nacional – como o PCdoB e o PT -, na mesma São Paulo podem marchar separados no primeiro turno. O comunistas empunhando a candidatura do vereador Netinho de Paula, de imenso apelo popular; os petistas apresentando Fernando Hadad. Na segunda volta, como dizem os portugueses, o mais votado pode amealhar o apoio do outro. E o eleitor terá visto decantadas as propostas de ambos.
Errado é quando as alianças se celebram em termos estritamente eleitorais, se é que isso é possível, despidas da explicitação de propostas programáticas. Meros arranjos que, se vitoriosos, estarão fadados ao fracasso. Porque o mínimo que se pode exigir de uma coligação partidária é a convergência em torno de uma plataforma de intenções que venha a servir no futuro como parâmetro para o governo e como crivo aos olhos da sociedade. Não é à toa que composições partidárias vitoriosas se desfaçam nos primeiros seis meses de gestão, mergulhadas em disputas menores. Diferentemente, alianças que inicialmente pareciam esdrúxulas se mantiveram e proporcionaram resultados significativos para a população. Um belo exemplo é a ampla e heterogênea coalizão reunida em torno de Lula e que prossegue como base de sustentação do govern a Dilma.
Claro que, na prática, no interior da coalizão partidária e do governo surgem discrepâncias em torno de questões relevantes, algumas contornáveis, outras não. Dá-se a unidade e a luta ao mesmo tempo. Formam-se consenso possíveis ou são tomadas decisões sob a responsabilidade do governante que contrariam interesses abrigados no próprio governo.
Os esforços da presidenta Dilma no sentido de paulatinamente romper com os fundamentos macroeconômicos que travam o crescimento econômico – câmbio sobrevalorizado e juros altos, sobretudo – não recolhem a aprovação unânime no seio da coalização governista. A despeito disso são mantidos e produzem resultados. É da vida – e da política.

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