Diário de Pernambuco
Honestidade anda em falta. É característica da pessoa ou instituição que repudia a malandragem, a esperteza de querer levar vantagem em tudo. Tal substantivo é tão raro que até o sujeito afeito à honestidade é chamado de burro. Foi assim com Ednaldo Sizenando da Silva, 33 anos, o carroceiro honesto de São Caetano, no Agreste pernambucano. Depois de achar uma mochila contendo R$ 7 mil, além de celular, tabletes e cheques em branco, ele logo tratou de achar o dono. Em troca, recebeu de tal pessoa um emprego. Ednaldo já estava sem ocupação há dois meses. No dia do achado valioso, tinha apenas R$ 22 na carteira. Ao contrário de Ednaldo, muitos teriam ficado com a mochila. O carroceiro terminou tendo vantagem ao não querer levar vantagem com o bem dos outros.

O carroceiro acende o debate sobre algo que deveria ser regra, mas é exceção. Uma auto-reflexão sobre o tema não faz mal a ninguém. Querer o fim da corrupção da boca para fora é fácil. Desafio é não ser o próprio corrupto. Em casa, no trabalho, na sociedade.
Uma pequena lista de atos ilícitos diários pode ajudar nessa análise. Sonegar impostos, obter carteirinha falsa, comprar carteira de habilitação, fazer hora no trabalho, adquirir pirataria, estacionar em vaga especial, ganhar no troco, corromper alguém com o velho “toco” ou manter em casa o famoso gatonet são somente alguns exemplos de corrupção. Existem mais.
Ednaldo diz ter aprendido lições de honestidade da mãe, uma mulher pobre, mãe de 34 filhos. Conta levá-las para toda a vida. Assim coloca a cabeça no travesseiro tranquilamente. O carroceiro não é burro, como falaram alguns. Ele apenas foi honesto no ato de devolver a mochila ao dono. Pensou em titubear. Mas sua formação familiar falou mais alto. O caminho em busca de uma sociedade honesta, portanto, pode começar a ser traçado em casa, com pequenos exemplos e lições diárias junto aos filhos.