Priscilla Costa, da Folha de Pernambuco
Enquanto outros municípios brasileiros tentam acabar com seus lixões a fim de se adequar Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no município de linda, no Grande Recife, vem a contramão, voltando a desejar todo seu lixo a céu aberto. A Folha esteve no Aterro de Aguazinha e constatou que o espaço, que dispõe de uma meta total de 17 hectares, tem retornado cada vez mais à condição de lixão.
Enquanto isso, assinatura de um Termo de Compromisso Ambiental (TCA) está em fase de negociação com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). No documento consta o cronograma das medidas a serem adotadas pela prefeitura para adequação a lei, o qual ainda não foi assinado após as secretarias de serviços Públicos e Assuntos Jurídicos da prefeitura solicitarem alterações no termo, entre elas, a ampliação do prazo da assinatura. A contraproposta está sob análise do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça (Caop) do ministério.

Os registros feitos pela Folha foram enviados à promotora para análise. A situação por lá se torna ainda pior por não existir controle da entrada das pessoas, mesmo contendo placas e proibição. A Folha, inclusive, registrou a presença de crianças empinando pipa no local. Os muros de concreto que separavam a comunidade o lixão foram derrubados, deixando o tráfego livre para quem quiser entrar. Sem nenhuma proteção, o lixo é jogado no limite entre o terreno do aterro e a rua.
Por lá, muitos catadores de lixo trabalham. Seu Valdemir Santos, de 59 anos, é um deles. Ele contou que três vezes por semana adentra o aterro para coletar entulhos e, assegurou, não há nenhuma restrição por parte de nenhum vigilante responsável por fiscalizar a área. “Dependo do lixo para ter uma renda. Se na Associação de Catadores não há espaço para todo mundo, o jeito é a gente se virar como pode. Às vezes faço alguns bicos, mas não são suficientes para me sustentar”, justificou. O autônomo Sandorval da Silva, 43 anos, foi um dos catadores que integrou a associação. “Mas, não compensa. O trabalho não é valorizado. Muitos catadores deixaram a associação e voltaram ao lixão porque o dinheiro é uma mixaria”, denunciou. Segundo ele, um catador na associação chega a tirar até R$ 300 por mês, enquanto que, no lixão, é possível tirar R$ 150 por dia. “Além disso, não se assina carteira e nem dão roupas de proteção”, acrescentou Silva.
RESPOSTA - Em nota, a Prefeitura de Olinda justificou a crise financeira como um dos motivos para suspender temporariamente o transporte dos entulhos para Igarassu. “Olinda também tem enfrentado dificuldades de ordem financeira provenientes da queda de receitas em virtude da crise econômica que assola o país. Isso tem dificultado o pagamento da empresa responsável pela recepção do lixo recolhido ao Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos de Igarassu. Devemos regularizar esse pagamento até o início da próxima semana”, assegurou. Sobre a invasão do espaço do Aterro Sanitário de Aguazinha, a Secretaria de Serviços Públicos disse que já “pediu reforço à Guarda Municipal de Olinda e vai apurar as possíveis irregularidades que estão ocorrendo no local”.