Conhecida a convocação do Felipão, a conclusão é de que política e futebol tem tudo a ver. Mais especificamente, a copa do mundo com a sucessão presidencial, que se não houver mudanças na Constituição, irão sempre coincidir de quatro em quatro anos.
A pergunta que não quer calar é se haverá reflexo na escolha do presidente da República caso o selecionado brasileiro se desclassifique, não chegando ao título de hexacampeão. No reverso da medalha, se nossos craques levantarem a taça, podem ser previstas consequências no comportamento do eleitorado?

Agora, se formos campeões, inegavelmente Dilma tirará proveito. O clima de euforia que tomará conta do país contaminará seu governo e sua candidatura ao novo mandato.
Uma variável desconhecida ainda pesa na equação: e se a presidente continuar caindo nas pesquisas e for substituída pelo Lula? Nessa hipótese o primeiro-companheiro precisaria de uma estratégia delicada. Assumir a candidatura em plena copa do mundo será um risco. No caso de nosso time pular fora depois da troca, não faltarão vozes a concluir que a culpa foi do Lula. No entanto, se coincidir a conquista no Maracanã com o lançamento do ex-presidente, será uma festa. Por via das dúvidas, se essa alternativa sucessória acontecer, melhor que aconteça depois do encerramento da copa, qualquer que seja o seu resultado.
Enfim, não há como deixar de relacionar futebol com política. Melhor seria, para evitar confusões, que no bojo de uma inviável reforma política o Congresso acabasse com a reeleição e aumentasse os mandatos presidenciais de quatro para seis anos. Desapareceriam as coincidências.
NADA DE NOVO SOB O SOL
Getúlio Vargas assumiu o governo pela segunda vez em janeiro de 1951 e durante alguns meses manteve o general Angelo Mendes de Moraes como prefeito do Rio, então capital federal. Por um desses conselhos de autor desconhecido, Getúlio aceitou comparecer ao Maracanã num domingo de Fla-Flu. Os alto-falantes anunciaram sua chegada na tribuna de honra. Havia tomado posse pouco antes e a multidão o recebeu com aplausos. Estava com ele o prefeito Mendes de Moraes, que logo mandou o locutor anunciá-lo. Sem exagero algum, cem mil pessoas se levantaram, entoando um coro capaz de ser ouvido até em Copacabana: “Água! Água! Água!”
O Rio vivia permanente estado de carência e racionamento.
Pois é. Caso o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad compareçam ao jogo de abertura da copa do mundo, no Itaquerão, deveriam ter a cautela de não mandar anunciar suas presenças. São Paulo de hoje nada tem de diferente do Rio de antigamente…