“Cuidar também é resistir” Jaboatão abre o mês da Consciência Negra com Fórum sobre saúde, infância e antirracismo

Antônio Assis
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A tarde desta segunda-feira (10) foi de escuta, afeto e luta em Jaboatão dos Guararapes. O município deu início às atividades do mês da Consciência Negra com a realização do V Fórum de Saúde da População Negra, que reuniu gestores públicos, profissionais de saúde e educação, representantes de movimentos sociais e do controle social para discutir estratégias de enfrentamento ao racismo e fortalecimento das políticas de equidade racial no SUS.

Com o tema voltado à infância antirracista e à integração entre saúde e educação, o encontro foi marcado por depoimentos emocionantes e reflexões sobre ancestralidade, pertencimento e justiça social. A programação aconteceu em diálogo com o programa ‘Raízes Que Embalam’, iniciativa municipal voltada à valorização da identidade e da cultura afro-brasileira nas escolas.

A secretária municipal de Saúde, Zelma Pessôa, destacou a importância da representatividade e da construção coletiva nos espaços de formulação de políticas públicas. “Essa pauta é representativa porque temos aqui pessoas que expressam várias instâncias e o controle social estadual. É um momento de partilha e de construção coletiva. Cada fala, cada presença reafirma o compromisso de fazer uma saúde pública com equidade e com olhar voltado para quem mais precisa”, ressaltou.

Para Mãe Fátima de Oxum, vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde de Pernambuco, a luta antirracista deve ser transversal e permanente. “Todo espaço que existe para debater essa pauta é de suma importância. A população negra contribuiu e contribui muito para a cultura, para a história e para o desenvolvimento do país, mas ainda sofre com o racismo e a desigualdade. Precisamos não apenas de uma sociedade justa, e sim de uma sociedade antirracista”, afirmou.

Ela também chamou atenção para a urgência do cuidado integral e do acolhimento às pessoas negras. “Quando falamos em atenção primária, falamos também de prevenção, do corpo e da mente. Quantas pessoas estão adoecendo mentalmente? Quantos jovens estão se mutilando? É preciso sair da zona de conforto e entender de perto o que a população negra enfrenta todos os dias”, completou.

Representando a Secretaria de Educação, Leydejane Batista destacou o avanço da articulação intersetorial entre as áreas de saúde e educação, com foco na infância. “Temos desenvolvido ações conjuntas entre as secretarias, especialmente voltadas para crianças e adolescentes. O Programa Raízes Que Embalam é um exemplo de como o trabalho integrado pode transformar realidades, unindo o conhecimento e o cuidado com a identidade e a saúde”, destacou.

O coordenador de Atenção à Saúde do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Jaboatão, Marcelo Silva, reforçou que o compromisso com a equidade racial é uma diretriz de toda a gestão. “O racismo é um determinante social da saúde. Ele define acesso, tratamento e qualidade de vida. Nosso papel é garantir que as políticas públicas cheguem a todos de forma justa, humanizada e sem preconceitos”, pontuou. A professora Fabiana Silva, da rede municipal de ensino, relacionou sua história de vida com sua atuação em sala de aula. “Como mulher negra, vivi um processo de descoberta difícil na infância. Hoje, como professora, quero que meus alunos tenham uma trajetória diferente, com mais acolhimento e valorização. A escola precisa ser um espaço de pertencimento e afeto, e isso também é cuidar da saúde”, relatou.

O Fórum, que chega à sua quinta edição, consolida-se como um espaço de resistência, partilha e construção de políticas públicas integradas, reafirmando que o combate ao racismo deve atravessar todas as áreas da gestão.

Ao abrir o mês da Consciência Negra, Jaboatão reforça seu compromisso com uma gestão pública antirracista, participativa e intersetorial, que reconhece a força da ancestralidade e o direito de cada pessoa viver com dignidade, saúde e respeito.

Ao longo de novembro, o município promoverá uma série de ações voltadas à valorização da cultura afro-brasileira e à promoção da equidade racial, com rodas de conversa, oficinas formativas e campanhas educativas nas escolas e unidades de saúde. Cada iniciativa reafirma a mensagem central deste mês que é combater o racismo. E que isso é um ato diário de cuidado, resistência e transformação social.

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