Rede criminosa atuava com “dólar-cabo” e empresas de fachada em esquema multimilionário em Pernambuco e outros estados brasileiros, além dos EUA
Imagem ilustrativa. Arquivo da Polícia Federal (PF).
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou quatro pessoas por envolvimento em uma complexa rede criminosa desmantelada pela Operação Amphis. A denúncia detalha a atuação de doleiros em operações financeiras clandestinas, evasão de divisas e lavagem de ativos ilícitos em Pernambuco e outros quatro estados brasileiros, assim como no estado da Flórida, nos Estados Unidos da América (EUA).
A Operação Amphis revelou um sofisticado esquema que utilizava o método "dólar-cabo", em que intermediários convertiam moeda nacional em estrangeira, ou o contrário, sem passar pelo sistema bancário internacional. Para ocultar a origem e o destino dos valores, os envolvidos manipulavam contas abertas em nome próprio, de terceiros e de pessoas físicas e jurídicas fictícias, empregando documentos falsos para fragmentar os montantes movimentados. Empresas de fachada do ramo de importação e exportação, assim como outras ligadas aos denunciados, não possuíam operações reais em seus endereços declarados ou eram desprovidas de funcionários.
Os quatro denunciados são acusados, principalmente, de operar instituições financeiras clandestinas, promover evasão de divisas, cometer lavagem de dinheiro e integrar associação criminosa. Um deles, considerado com papel central no esquema, é acusado de lavagem de dinheiro por ocultar a origem ilícita dos ativos, como a compra de um veículo com recursos provenientes das atividades ilegais e pela acentuada inconsistência em suas declarações fiscais. Este mesmo indivíduo teria realizado dezenas de operações de "dólar-cabo" e movimentado altos valores em transações com pessoas envolvidas em práticas ilícitas similares.
De acordo com o MPF, outros dois denunciados, um deles cidadão norte-americano, atuavam no mercado de câmbio paralelo, utilizando contas no Brasil e nos EUA para efetuar remessas clandestinas de recursos ao exterior via "dólar-cabo". Eles controlavam contas de empresas fantasmas e se associavam a outros membros do grupo para realizar transações criminosas.
Um quarto denunciado é apontado como "sócio-laranja", acusado de falsificação e uso de documento falso. Ele inseria informações falsas em estatutos sociais de empresas fictícias abertas em seu nome, permitindo a abertura e o uso de contas bancárias para movimentação de milhões de reais. Empresas a ele associadas movimentaram volumes expressivos de dinheiro, muito acima de sua remuneração declarada e de seu padrão de vida simples, confirmando sua atuação no esquema de ocultação de bens.
Operação Amphis – A denúncia é fruto de um complexo trabalho investigativo que incluiu quebra de sigilo telemático, análise de mídias apreendidas, relatórios de perícia contábil-financeira e Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A Polícia Federal deflagrou a Operação Amphis em outubro de 2020, com a primeira fase tendo como principais alvos os doleiros, e uma segunda fase em setembro de 2021, focando em operadores financeiros e na apuração de crimes ocorridos a partir de 2018.
Somente no Brasil, o grupo criminoso atuava nos estados de Pernambuco, Ceará, Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro e teria movimentado mais de R$ 250 milhões nos últimos dez anos.
Assessoria de Comunicação Social
Procuradoria da República em Pernambuco