Blog da Folha
O grupo que deseja comandar Pernambuco a partir de 2019 terá que dialogar com o eleitorado evangélico. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Estado, mais de 1 milhão de pessoas se identificam com alguma denominação cristã protestante.
A tendência que se acentua nas últimas eleições, com votações expressivas de políticos evangélicos, se ilustra com o exemplo de prefeituras como Jaboatão dos Guararapes e Olinda, cujos gestores são oriundos desse segmento. Na costura das chapas de oposição, fala-se em contemplar uma vaga no Senado ou na vice-governadoria com um candidato evangélico, o que projeta a influência religiosa ainda mais no debate político. Quem tiver inserção, terá mais votos.

Na disputa para a Câmara dos Deputados, em 2014, Pastor Eurico (PSB) contou com 233 mil votos, só perdendo para Eduardo da Fonte (PP) e superando o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). O atual prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PR), se elegeu deputado com 150 mil votos, ficando entre os 10 mais votados.
Para a Assembleia Legislativa, os dois mais votados foram Pastor Cleiton Collins (PP), com 216 mil votos, e Presbítero Adalto Santos (PSB), com 158 mil, sem contar o PRB, do Bispo Ossésio Silva, que representa a Igreja Universal. Há uma predominância desses candidatos na região metropolitana, onde os votos de opinião se sobrepõem à questão geográfica.
Autor do Estatuto da Família, Anderson Ferreira deixou a Câmara dos Deputados para concorrer à Prefeitura de Jaboatão em 2016. Ele se elegeu no segundo turno com 171 mil votos, o que reforçou ainda mais o capital político da sua família. Além de Anderson, o grupo ainda dispõe do deputado estadual André Ferreira (PSC), que já foi campeão de votos em 2008 e 2012 na Câmara dos Vereadores, e em 2016 ainda elegeu o cunhado Fred Ferreira (PSC) com 14 mil votos.
Para 2018, o clã planeja reabilitar Manoel Ferreira, pai de Anderson e André, para disputar uma vaga no Legislativo estadual. Ele que já foi deputado estadual por sete vezes consecutivas, representando a Assembleia de Deus.
Nos últimos meses, o prefeito Anderson Ferreira recebeu em Jaboatão os ministros de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB), e das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), além do senador Armando Monteiro Neto (PTB). A cidade é vista como vitrine política para referendar projetos para 2018. “Tive atuação exitosa no Congresso, defendendo a família, e consegui sair do nicho, através de uma bandeira que agrada até católicos e toda a sociedade, o Estatuto da Família, que me deu condições de disputar a prefeitura”, conta Anderson.
Ele acredita que “uma chapa para o governo que não tiver um olhar para essa fatia do eleitorado pode não ter êxito”. “O grupo que apostar, inclusive numa candidatura evangélica para o Senado, terá sua chapa oxigenada. Agora não pode ser um discurso de 'despachante de igreja'. Tem que conversar com todas as denominações”, defende o prefeito. Cotado para uma vaga no Senado, André Ferreira reforça que sua família deve somar na chapa majoritária. "O segmento evangélico tem crescido, demonstrado sua força a cada eleição. Os números dizem isso", diz o deputado.
Para o prefeito de Olinda, Lupércio Nascimento (SD), havia muito preconceito com os políticos evangélicos, mas essa visão está se quebrando. “O pessoal dizia que a gente ia acabar com o Carnaval de Olinda, que só ia governar para os evangélicos, mas estamos mostrando que governamos para todos”, declara o gestor, que foi eleito deputado estadual em 2014 e venceu a disputa municipal contra Antônio Campos (Avante), irmão do ex-governador Eduardo Campos. Todavia, Lupércio acredita que ser evangélico já o coloca à frente na disputa, porque gera uma identificação com o eleitorado.
Integrante da Assembleia de Deus do Recife, o deputado Presbítero Adalto Santos é parte do Projeto Cidadania, tocado pela própria igreja, que visa eleger um deputado estadual, um federal e um vereador no Recife. Nesse projeto, também participam o congressista Pastor Eurico e a vereadora do Recife, Irmã Aimée Carvalho (PSB). Adalto conta que esse mesmo projeto é responsável por eleger políticos em mais de 10 cidades do interior do Estado. “Há um vácuo muito grande de representação e podemos até ter candidato a governador, porque o nosso segmento é muito unido”, afirma o deputado.