Efeito Orloff - Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo

Antônio Assis
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Eduardo Cunha renunciou, chorou, mas não mudou. Ao reaparecer ontem na Câmara, o deputado afastado voltou a empunhar sua arma mais conhecida: a ameaça. Em tom agressivo, ele bateu na mesa, elevou a voz e disse que quem não ajudá-lo pode entrar na fila do precipício. Nem parecia o político lacrimejante da semana passada.

Como a teoria dos trustes não engana mais ninguém, Cunha trocou a defesa pelo ataque. Disse que não é o único investigado na Câmara e que os algozes do presente correm o risco de virar vítimas do futuro. Ele citou uma antiga propaganda de vodca para reforçar o aviso. "Hoje sou eu. É o efeito Orloff. Vocês, amanhã. Não tenho a menor dúvida", disse.

No anúncio dos anos 80, o consumidor era aconselhado a comprar uma bebida mais cara para evitar a ressaca no dia seguinte. "Eu sou você amanhã", dizia o slogan. Cunha quer convencer os colegas de que é melhor pagar o preço de salvá-lo a enfrentar o custo de uma retaliação.

O correntista suíço conhece os esqueletos de muitos colegas, mas suas ameaças não surtem mais o efeito de antes. Ele perdeu a aura de imbatível e já foi abandonado por muitos aliados que o apoiaram até conseguir o impeachment. A votação no Conselho de Ética mostrou que a pressão para cassá-lo passou a falar mais alto que o medo da sua reação.

Os deputados costumam ter forte instinto de sobrevivência. Entre duas opções no bar, quase sempre sabem escolher a que dará menos dor de cabeça no dia seguinte.

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