A coragem de dar um basta na violência contra a mulher

Antônio Assis
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Deborah Hulak é um exemplo de empoderamento feminino diante da violência. Seu relato é um exemplo para outras mulheres
Guga Matos/JC Imagem

Ciara Carvalho
JC Online

Ela não esperou o pior. Deu um basta quando, em um ataque de ciúmes, ele disparou:
“Se encontrar você com outro homem, eu te mato.”

Aquela ameaça era um alerta definitivo. Não havia mais o que esperar. Sobretudo depois que a agressão passou das palavras à ação. Em meio a uma outra discussão, ele tomou o iPhone 5 dela e o partiu ao meio. Destruiu o aparelho e tentou arremessá-lo pela janela do apartamento do edifício de classe média alta, no coração de um dos bairros nobres do Recife. Era 1º de novembro do ano passado. Véspera do Dia de Finados. Ela só esperou passar o feriado. No dia seguinte, estava na Delegacia da Mulher denunciando o marido. Contrariando as estatísticas, o comportamento padrão e o medo de se expor, Deborah Hulak, 47 anos, mãe de duas filhas (a mais nova, de 5 anos, fruto do casamento com o marido denunciado), rompeu o silêncio, antes que o pior pudesse acontecer. Ao aceitar conversar abertamente sobre o que enfrentou, a servidora pública federal revela não só uma atitude de coragem. Mas uma negativa à vitimização de sua condição de mulher. “Não sou e não quero ser vítima. A violência dele até me colocou nessa posição, mas sou autora da minha história. Não tenho por que me esconder.”

Não é uma decisão fácil. Muito menos comum. Sobretudo na classe social que Deborah faz parte. Em geral, a violência contra a mulher e, consequentemente, a exposição dessa violência, tende a ser associada à condição de pobreza. A própria iniciativa de procurar uma delegacia para denunciar a agressão costuma ser evitada pelas mulheres que possuem uma condição econômica mais favorável. Deborah diz que, embora esse comportamento seja frequente, ele lhe causa estranheza. “Sinceramente, eu acho que é mais por uma questão de vaidade. Dessa mulher estar numa condição social onde o julgamento do outro parece ser mais importante. De não querer se expor para os vizinhos, no âmbito social, no trabalho. Você quer mostrar que está tudo sempre muito bem.” Ao agir dessa forma, no entanto, Deborah diz que a mulher não percebe que alimenta a violência contra ela mesma. “Esse aprisionamento só dá mais poder ao agressor. Se ela não toma uma atitude para barrar esse tipo de ação, então, sem querer, fomenta isso.”

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