Folha de S.Paulo
"Eu vim para confundir, não vim para explicar". Abelardo Barbosa, o Chacrinha, seria o comentarista mais indicado para traduzir o noticiário político de hoje. Seu cassino televisivo parecia organizado perto do clima da anarquia que tomou o Congresso às vésperas da votação do impeachment.
"Eu vim para confundir, não vim para explicar". Abelardo Barbosa, o Chacrinha, seria o comentarista mais indicado para traduzir o noticiário político de hoje. Seu cassino televisivo parecia organizado perto do clima da anarquia que tomou o Congresso às vésperas da votação do impeachment.
A segunda-feira começou com uma surpresa. Waldir Maranhão, o curioso substituto de Eduardo Cunha, anulou a abertura do processo contra Dilma Rousseff. A decisão foi recebida com festa no Planalto, onde ela comandava outra solenidade com cara de programa de auditório.
"Uh, é Maranhão! Uh, é Maranhão!", explodiram os estudantes. "Ô gente, eu não tenho garganta. Vou pedir um pouquinho de silêncio, depois nós tornamos a gritar", suplicou Dilma, sem sucesso. Alguém propôs ocupar os salões do palácio, mas a ideia foi abandonada a tempo.

O circo logo se instalou no Senado. Quando Renan Calheiros chegou, a tribuna era ocupada por Zezé Perrela, o do helicóptero. Ele definiu o ato de Maranhão como um "surto de psicopatia". "A galinha já está morta", prosseguiu. O tumulto era tão grande que ninguém prestou atenção.
No auge da bagunça, Renan fez um anúncio: "Vou suspender a sessão por dois minutos para que vossas excelências gritem em paz". Os senadores da oposição, que o tratavam como um despachante do governo, aplaudiram de pé quando ele prometeu tocar o impeachment adiante.
Tudo seria engraçado se o futuro do país não estivesse sendo decidido por esses personagens. Chacrinha não está mais aqui para nos ajudar, mas podia ter deixado a buzina.