Maíra Baracho
Diário de Pernambuco
A Política Municipal de Práticas Integrativas, implementada há 11 anos no Recife, está sob ameaça. Sem receber os salários desde o ano passado, terceirizados – que correspondem a 90% do quadro – pretendem acionar o Ministério Público, denunciam a falta de manutenção e estrutura nas unidades e cogitam suspender os cerca de cinco mil atendimentos que realizam todo mês.
São cerca de 40 profissionais que auxiliam nas práticas corporais e mentais integrativas que são oferecidas gratuitamente pelo município e contemplam atividades como ioga, meditação, constelação familiar e reike. Ofertadas em duas unidades de saúde e dentro das próprias comunidades, através do vínculo com unidades de saúde da família, o serviço – que é, mais do que isso, uma filosofia de atenção à saúde – carece de atenção e, segundo denúncia de um prestador de serviço que não quis se identificar, está “impraticável”.
“No Centro Guilherme Abaph o teto de uma farmácia de homeopatia, cheia de mofo, ameaça cair. É um serviço que não tinha que funcionar, só funciona porque a demanda existe, tem que ser. Uma piscina, que usávamos para as atividades com pacientes, está parada porque não tem manutenção”, conta o profissional que é membro da Rede SUS de Praticantes Integrativos (Redepics) e revela ainda que os problemas não são privilégios apenas deste centro.
Segundo o funcionário, infiltrações são comuns em todas as dependências das unidades, onde os ares-condicionados estão quebrados e também não há ventilador. “Muitas vezes trabalhamos no calor”, revela o funcionário, que aponta, por outro lado, equipamentos novos, esperando pela instalação no Centro Integrado de Saúde (Cis). “São ares-condicionados em caixas. Estão esperando a mais de seis meses e não são instalados”, aponta.
Fora dos centros, nas atividades realizadas dentro das comunidades, o funcionário comenta que a falta de recursos também é um obstáculo e que os servidores acabam tirando do próprio bolso para conseguir cumprir suas funções. “A gente tem que ir para as comunidades com nosso carro e, que não tem, de ônibus. Precisamos ser pagos, por que vamos trabalhar sem receber dinheiro?”, questiona, nem esconder a revolta.
Em 20015, segundo a Redepics, duas cartas foram protocoladas nos gabinetes do secretário de Saúde e do prefeito Geraldo Julio solicitando uma reunião. Até agora, no entanto, não receberam nenhuma resposta formal. “Tem gente que nem recebeu o 13º salário. O salário de dezembro, ninguém recebeu, e eles simplesmente não têm uma resposta, não falam nada. Ficamos sabendo por terceiros que a prefeitura não tem dinheiro, mas não sabemos até que ponto é real. Dizem que não vão demitir porque não têm como pagar a rescisão, mas são informações dos corredores”, relata, criticando a falta de transparência do município.
Diante do silêncio da administração municipal, o grupo estuda acionar o Ministério do Trabalho e o Ministério Público.
Após a denúncia, a Prefeitura do Recife se comprometeu a apurar as informações, mas adiantou que ainda nesta semana vai resolver a situação dos repasses dos salários. Sobre a sede do Núcleo de práticas integrativas, disse também que mais de 100 unidades de saúde no Recife estão passando por reforma. "Conforme cronograma a ser executado, a unidade das práticas integrativas também passará por obras".