Orquestra Criança Cidadã de Ipojuca: música muda a vida de jovens sonhadores

Antônio Assis
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Alunos da Orquestra Cidadã Meninos de Ipojuca com a música lidam melhor com os obstáculos da vida. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press.

Marcionila Teixeira
Diário de Pernambuco

A harmonia, em seus variados significados, é decisiva naquele espaço. Sem ela, a orquestra perde sua característica. E a vida em grupo fica mais difícil. Os integrantes da Orquestra Cidadã Meninos de Ipojuca têm aprendido aos poucos pequenas lições de sabedoria. Hoje, a maioria vai muito bem no aprendizado da música, segundo avaliação da coordenação do projeto. Além das paredes da sala de ensaio, eles também parecem lidar muito melhor com os obstáculos da vida.

Tatiane Alves da Costa, 16 anos, teve um irmão assassinado há pouco mais de um ano, em Barra de Sirinhaém. No início deste ano, também perdeu o pai, que morreu atropelado. O alívio para a dor das perdas veio com a música. Tatiane aprendeu em um ano a tocar e a amar o contrabaixo, instrumento que nem sequer tinha ouvido falar antes.

Agora, resta convencer a mãe da necessidade da música em sua vida. “Ela não gosta que eu ensaie em casa. Não aprecia o som. Diz que estou ficando mais velha e preciso arrumar emprego, ganhar dinheiro. Pensei até em desistir de tocar, mas se ela me ama, tem que me aceitar como sou”, desabafa. 

Édson José dos Santos Silva, 12, sofria agressões verbais na escola. Sempre se incomodou com os apelidos. Agora as coisas andam diferentes. Édson adotou um novo comportamento diante daquilo que não lhe agrada. “Tenho que me sentir o que sou e não o que os outros falam de mim. Muita gente dizia que eu não era nada, mas agora que aprendi a tocar, fazem questão de falar comigo”, conta.

As lições para a vida surgem durante a aplicação do método Suzuki de ensino da música nas aulas da orquestra. O maestro José Ademar Rocha, o primeiro a trazer a técnica para Pernambuco, costuma dizer: “Para trabalhar harmoniosamente a música, a vida precisa estar harmoniosa entre eles também”. O método Suzuki foi desenvolvido por Shinichi Suzuki, no Japão, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, e utiliza a educação musical para enriquecer e melhorar a vida de seus estudantes.

Para o maestro Mário Pereira, coordenador pedagógico e regente, os cem alunos da Orquestra de Ipojuca, que só atende pessoas entre 8 e 17 anos moradoras de Camela, distrito de Ipojuca, o método ajuda no aprendizado mais rápido. O resultado do investimento é a viagem de cinco alunos programada para o próximo mês. Eles se destacaram no grupo e por isso embarcarão com destino ao Vaticano, Jerusalém e Paris junto com músicos da orquestra do Coque. O projeto é 100% financiado pela Secretaria de Juventude e Esportes e custa, por ano, R$ 2,2 milhões. “Precisamos fechar parcerias para dobrar o número de alunos atendidos”, disse Miqueias Silva, secretário da pasta. Há uma fila de espera de pelo menos 260 jovens.

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