Raquelle Wacemberg
Folha de Pernambuco
“Ela me pedia para ir à escola todos os dias, desde que deixou de frequentar, há três meses”, contou a mãe da pequena Ana Gabriele, 5 anos, a operadora de caixa Paula Batista, 22. Segundo ela, o pai da menina não conseguiu arcar com o compromisso da mensalidade, que custava R$ 85. Paula pensou que a filha só voltaria a estudar no próximo ano. “A essa altura do campeonato, como iria encontrar uma vaga? Achava que ela ia perder o ano. Estou aliviada agora”, comentou. Graças ao programa Busca Ativa, milhares de voluntários realizam, desde maio do ano passado, mutirões em Jaboatão dos Guararapes, com a missão de visitar famílias em busca de crianças que estejam sem estudar, para levá-las às escolas. De 2009 para 2014, o índice de evasão escolar na cidade já havia caído de 16% para 5%.
Segundo o secretário de Educação do município, Francisco Amorim, mais de cem crianças já foram matriculadas em escolas municipais de Jaboatão desde a última terça-feira (08), dia em que foi dada a largada à mobilização. “O foco da iniciativa é localizar crianças de 4 e 5 anos para consolidar a universalização do atendimento na cidade. Além de garantir o direito da criança à escola”, destacou Amorim. Ele ainda ressaltou que, neste ano, o município reforçará o mapeamento e trará para a rede de ensino as que completaram 4 anos. A meta do programa é visitar 200 mil residências até a próxima quinta-feira. Para isso, 1,3 mil voluntários participarão do trabalho.
O agente comunitário de saúde Josinaldo Bento, 38, está engajado no projeto desde o início. O alvo, segundo ele, é visitar 750 pessoas, ou seja, 250 residências. “Já consegui levar duas crianças. É muito bom você dar esperança para esse público que ainda não teve acesso à educação”, afirmou, acrescentando que participou de uma capacitação para aplicar o questionário do Busca Ativa.
Atualmente, a administração municipal atende a 5.593 crianças dessa faixa etária e ainda dispõe 631 vagas nas escolas. Uma dessas vagas também foi destinada para a pequena Ingrid Isabela, 4. A mãe dela, a dona de casa Débora Cristina da Silva, 30, não sabia que podia matricular a filha com essa idade. “Só ia colocá-la na escola no próximo ano. Descobri que ela já poderia estudar com a visita de um dos voluntários. Ela já está matriculada e muito feliz”, comemorou.
Abandono
O secretário Francisco Amorim adiantou que a meta para este ano é reduzir a evasão escolar ainda mais. Para manter o ritmo de desaceleração, o município investiu em visitas às residências das crianças que estão há mais de três dias seguidos sem frequentar a escola. Neste caso, os responsáveis são convocados para comparecerem às unidades de ensino. “É o que chamamos da segunda etapa do Busca Ativa. Assim que é confirmada a ausência dos alunos, a direção da escola notifica a família para ir à unidade de ensino e manda um motoboy fazer a visita”, explicou o gestor. Nesse caso, complementou o secretário, o público-alvo é composto por estudantes da Educação Infantil até o Ensino Fundamental.
O motoboy Edson dos Santos, 45, é voluntário do programa há poucos dias. Satisfeito, ele comentou que a iniciativa é uma forma de contribuir para a melhoria na educação, além de convocar os estudantes para retornarem às salas de aula. “A maioria das mães não sabe que os filhos não estão frequentando a escola. Ficam surpresas. A minha tarefa é informá-las e notificá-las. E elas aceitam bem”, disse.