Tribuna na Internet
A chapa está esquentando, isso não é bom. Radicalismos não interessam a ninguém. Estamos atravessando uma fase muito difícil, nunca antes na Historia deste país um governo se envolveu tanto com corrupção. As investigações prosseguem, existem muitos processos em curso, já começaram a sair as primeiras condenações, mas a nação permanece em paz, não há ameaças ao regime democrático, e é isso que interessa, fundamentalmente. O resto, como diria Roberto Carlos, são detalhes.
Acontece que detalhes podem ser coisas muito grandes para esquecer. No caso da chamada operação Politeia, o chamado modus operandi usado pela Polícia Federal despertou fortes reações no Congresso, acirrando o clima de animosidade já existente entre Legislativo e Executivo. A situação é delicada, porque estão sendo investigados os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), que não aceitam as acusações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

LISTA TRÍPLICE
Para recondução ao comando do Ministério Público Federal, Janot precisa ser um dos escolhidos na eleição da Associação Nacional dos Procuradores da República, responsável pela formação de lista tríplice a ser encaminhada à Presidência da República. A campanha eleitoral vai até 4 de agosto, e um dia depois haverá a escolha da lista tríplice pelo voto dos 1,2 mil integrantes do Ministério Público Federal em todo o país.
Detalhe importante: a presidente Dilma Rousseff não é obrigada a nomear o candidato mais votado, critério que tem sido respeitado desde o primeiro governo do ex-presidente Lula da Silva.
Se depender dos serviços prestados ao governo, Janot será reconduzido. É dele a escalafobética tese de que a presidente Dilma não pode ser investigada por crimes cometidos antes de assumir o respectivo mandato. Com este argumento (baseado num dispositivo constitucional totalmente anacrônico, adotado antes de haver reeleição) Janot declarou Dilma “inimputável”. Sua tese oportunista salvou a presidente num primeiro momento, mas depois foi publicamente rechaçada pelo ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo.
PROTEÇÃO A DELCÍDIO
É criticado também por ter protegido o senador petista Delcídio Amaral, que antes de se filiar ao PT era do PP e exerceu o cargo de diretor de Gás e Energia na Petrobras, tendo sido citado como corrupto em depoimentos de delações premiadas, mas Janot fez questão de não incluí-lo na lista de indiciados que enviou ao Supremo.
O fato é que Janot é odiado pelos presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), além dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ), Edison Lobão (PMDB-MA), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), entre outros envolvidos.
O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
É claro que Cunha, Renan, Lindbergh, Lobão & Cia. pretendem fazer o possível e o impossível para rejeitar o nome de Rodrigo Janot no Senado. Porém, o mais perigoso adversário parece ser o ex-presidente Collor, que subiu à tribuna cinco vezes para desancar o procurador-geral.
Já levantou fatos gravíssimos, denunciando o procurador-geral por ter acobertado um irmão, chamado Rogério Janot, que era estelionatário internacional, procurado pela Interpol e morreu há alguns anos. Collor desceu a detalhes, dizendo que o procurador-geral usou uma casa em Angra dos Reis, no Condomínio Praia do Engenho, Km 110, da Rodovia Rio-Santos, para esconder outro estelionatário, sócio do irmão dele, acrescentando que Janot alugava o imóvel sem contrato, para não deixar rastro e sonegar Imposto de Renda.
DUELO DE TITÃS
Diante deste clima de bangbang no Senado, a presidente Dilma Rousseff será muito inábil se indicar novamente Janot para a Procuradoria-Geral da República. Se ela o fizer, a sabatina dele na Comissão de Justiça será um espetáculo nunca antes assistido na história deste país, como costuma repetir o primeiro-companheiro. O tiroteio vai ser muito melhor do que o ocorrido no OK Curral, podem acreditar.