Thaís Cavalcanti
Folha-PE
O clima mais quente da cidade nos últimos meses não é por acaso. Entre alguns fatores, um deles tem aparentemente causa natural — ou assim fica posto até que haja um consenso entre pesquisadores sobre sua ocorrência: o fenômeno El Niño. Caracterizado como um aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico, a formação do “menino” foi confirmada neste mês por meteorologistas, depois de três meses consecutivos com temperaturas acima de 0,5ºC (que caracteriza um El Niño fraco). Depois de algumas emissões de alerta, a anomalia da temperatura da superfície do mar atinge 2ºC (El Niño moderado) e o orgão do governo norte-americano que acompanha o clima, o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOA), confirma a formação do fenômeno.
Com ocorrência em intervalos de 2 a 7 anos, o El Niño faz com que os ventos passem a ter menos força em todo o centro do Oceano Pacífico, de modo que estes resistem menos às águas quentes, o que resulta na acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul. No Brasil, o clima deve aquecer principalmente no Nordeste e em parte do Sudeste. De acordo com a meteorologista da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), Maria Aparecida Fernandes, a redução de chuvas no Agreste, Zona da Mata e litoral de Pernambuco, que normalmente atingem uma meta anual de 2.000mm (RMR) e 700mm (Agreste), pode chegar a até 40%.
O efeito climático acontece porque a região recebe um movimento descendente do fenômeno que ocorre no Pacífico. “Com o aquecimento maior do que o normal haverá uma evaporação também atípica e, consequentemente, mais chuvas nessa região. Mas tudo que sobe, desce em algum lugar. E esse ar que sobe no Pacífico desce justamente na nossa região do Nordeste e em parte do Sudeste, causando inibição do crescimento das nuvens”, explica.
A meteorologista menciona que, enquanto no Sul do país haverá mais chuvas, o Nordeste terá, no mínimo pelos próximos dois meses, um período menos chuvoso do que o habitual que caracteriza o início do inverno no Brasil. “O que causa o resfriamento ou aquecimento na nossa região é principalmente a quantidade de nebulosidade que a gente tem. Se a gente tem uma quantidade menor de nuvens na atmosfera, haverá mais radiação chegando e, consequentemente, mais calor”, pontua a especialista. A APAC estima que a probabilidade do El Niño permanecer até o fim deste ano é de 60%. É comum que o evento aconteça em dezembro — por isso o surgimento do nome, em referência ao natal, ou nascimento do “menino”