Com ajuste fiscal, estudantes têm agenda incerta em 2015

Antônio Assis
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Correio Brasiliense

Nos cursinhos preparatórios para concursos públicos, um assunto tem ocupado as rodas de conversa mais do que os detalhes da Lei nº 8.112 - a cartilha do funcionalismo - e os macetes para as questões de cálculo. O arrocho fiscal prometido (e esperado) para o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff preocupa os concurseiros, que preveem um número bem menor de vagas e seleções oferecidas em 2015.

A apreensão dos estudantes faz todo sentido, no entender do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Nelson Marconi, especialista em política e economia do setor público. “O governo terá de ser bastante rigoroso com os gastos e o mais provável é que, por isso, não haja um número significativo de concursos no ano que vem”, comentou. O calendário de provas poderá ser muito parecido ou mesmo mais minguado que o de 2014, que, com Copa do Mundo e eleições, já não foi o dos melhores para quem sonha com a estabilidade.




Diante da real necessidade de melhorar as contas públicas, em meio a um cenário de economia estagnada, Marconi defende que, no mínimo, a nova equipe de Dilma adote critérios firmes no lançamento de editais para a ocupação de cargos no governo federal. “Não sabemos o que vai ocorrer, mas a folha de pessoal pesa muito. A presidente precisará escolher bem para quais setores vai autorizar contratações”, acrescentou.

Cronograma

A torcida dos concurseiros é para que as seleções já solicitadas ou autorizadas saiam logo do papel, garantindo um cronograma mínimo. Aparecem nessa lista certames cobiçados, como o do Tribunal de Contas da União (TCU), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) e da Polícia Civil do DF. Caso confirmados esses editais, estariam em jogo pelo menos 5,3 mil vagas.

O estudante Ricardo Aires Rangel, 19 anos, anda sem esperança de que fará muitas provas em 2015. “Todo mundo sabe que 2015 será um ano ruim, infelizmente. Mas estou tentando não levar para o lado pessoal. Entendo a necessidade de conter despesas”, comentou. De olho em um cargo no serviço público, ele começou a estudar com afinco há poucos meses. “Se os concursos maiores vingarem, vai se dar bem quem tiver mais tempo de preparação”, acrescentou.


Em sala de aula, com as portas fechadas, professores de cursinhos deixam transparecer uma intuição semelhante à dos alunos e reconhecem a influência direta do arrocho fiscal no número de concursos. “Está claro que 2015 não será como a gente esperava. Falam de uma prova aqui, outra acolá, mas a verdade é que, por enquanto, não há edital na praça”, sublinhou a administradora Elisa Andrade, 24, há dois anos dedicada a livros e apostilas.

Terceirizados

Para manterem o pique dos estudos, os concurseiros se agarram à expectativa de que os governos coloquem em prática o discurso de trocar terceirizados e comissionados por aprovados em seleções públicas. Na opinião do professor Nelson Marconi, da FGV, porém, não se pode contar com essa possibilidade. “O problema é que essa mudança não será feita de uma hora para outra. Trata-se de uma política de médio prazo”, explicou.

O cenário macroeconômico “evidentemente alimenta uma ideia de que os concursos serão travados”, sublinhou o professor Ernani Pimentel, dono do Grupo Vestcon. “Melhorar os serviços públicos será tão importante quanto diminuir os gastos com o funcionalismo”, ponderou ele, torcendo para que, nesse sentido, os governos federal e local avancem na proposta de substituir funcionários nomeados por concursados.

Em 2015, a pedagoga e concurseira Soraya Volles, 44, espera mais editais lançados pelo GDF do que eventuais seleções aprovadas no âmbito da União. “O governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB), deixou claro ser contra o grande número de cargos comissionados nos órgãos locais”, lembrou, apostando fichas em concursos para preenchimento de vagas nas administrações regionais. O coordenador-geral da equipe de transição, Hélio Doyle, confirmou a intenção de Rollemberg em reduzir os comissionados. “Essa é a tendência”, disse, mas sem fazer previsões.

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