Para além da sala de aula

Antônio Assis
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Daniele Monteiro
Folha-PE

Ser professor é, para muitos, uma escolha de vida desafiante: ter que lidar com a desvalorização profissional, os problemas com a baixa remuneração e a falta de infraestrutura das escolas são fatores que naturalmente tendem a comprometer as atividades do corpo docente. Porém, indiferentes às dificuldades, a maior parte desses profissionais sentem amor pela profissão e sabem que por meio do próprio trabalho são capazes de promover mudanças na vida de outras pessoas.
Desde pequena, Karícia de Paula gostava de desempenhar um único papel nas brincadeiras caseiras, o de professora. Com a ajuda do quadro negro e do giz que recebeu dos pais e da ajuda dos irmãos que se transformavam em estudantes, ela já treinava as competências necessárias para se estabelecer no exercício da profissão, que executa há 12 anos. Além de realizar o sonho de professora, Karícia quis também inovar os métodos de trabalho e inventar um jeito próprio de ensinar.
    Por acreditar que o conhecimento ultrapassa as quatro paredes de uma sala de aula, ela passou a optar por outros ambientes dentro da instituição que ensina, a escola estadual Guedes Alcoforado, em Olinda, e fora dela, para dar aulas contextualizando o local escolhido com os conteúdos programáticos da Língua Portuguesa, da Literatura Brasileira e de Redação, disciplinas que leciona. "A construção escolar feita apenas dentro da sala de aula está ultrapassada. O que eu vivi no meu Ensino Médio não se vive mais nas escolas atuais", comentou.

    Leo Motta/Folha de Pernambuco
    Na escola, as aulas já aconteceram no pátio, na quadra, no auditório e na biblioteca. Até o final do ano, a professora assegura que eles ainda irão ter um momento na cozinha da instituição. Fora dela, os alunos já visitaram alguns locais do Recife, como o Marco Zero, e também em Olinda, como o Sítio Histórico e o Museu de Arte Contemporânea (MAC). "Mesmo já tendo passado em alguns pontos, eles conseguem vê-los com outro olhar. Isso é fundamental para a formação deles", comentou.

    A iniciativa tem o objetivo de impedir interferências no aprendizado dos alunos e atrair de maneira eficiente à atenção deles, principalmente nos dias de hoje, quando é recorrente o uso de aparelhos tecnológicos na sala de aula, como celular e tablets. "A gente tem que se reinventar. E dessa forma consegui também descobrir e desenvolver outras habilidades dos estudantes que eu não seria capaz de reconhecê-las se estivesse numa situação normal de sala", acrescentou.
    Os estudantes aprovam as aulas de Karícia. "A gente entende melhor e não esquece os assuntos tão rapidamente. A aula é realmente produtiva", contou Ingrit Barbosa, aluna do 1º ano. Ainda, segundo Karícia, os momentos diferenciados têm se mostrado importantes na diminuição dos conflitos existentes entre os alunos, oriundos de diferentes comunidades do município. "O maior desafio é tirar parte desses jovens do tráfico de drogas, um problema comum da nossa realidade, e transformá-los em pessoas de bem para o mundo afora", finalizou.
    SAIBA MAIS
    Além das aulas alternativas, os alunos da Escola Guedes Alcoforado, em Olinda também estão participando do projeto CineCabeça, iniciativa das Secretarias de Educação e de Cultura do Estado que oferece atividades audiovisuais no Cinema São Luiz aos alunos da rede estadual. Este ano, pelo menos 32 mil estudantes estão sendo contemplados com o projeto.

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