Correio Brasiliense

De acordo com o Diap, 77,97% dos deputados federais serão candidatos à reeleição este ano. O percentual é praticamente o mesmo de 2010, quando 79% dos parlamentares tentaram se reeleger na Câmara. A renovação costuma ser inversamente proporcional à quantidade de deputados que tentam a renovação dos mandatos. Desta vez, no entanto, a situação tende a ser diferente, segundo levantamentos do instituto.
“Acredito que o índice de renovação será de, no mínimo, 50%. Será atípico. Nos aproximaremos dos percentuais verificados em 1990 e em 1994”, diz Antônio Augusto Queiroz, assessor parlamentar e analista político do Diap. Ele explica que o prognóstico foi feito considerando o ambiente político, o custo da campanha e os históricos anteriores.
Para Queiroz, a tendência é de que a renovação seja superior às outras eleições por causa de dois fatores: o sentimento de necessidade de mudança e a percepção negativa que se tem dos parlamentares. “Hoje, uma pessoa que tem a vida organizada fora do Parlamento não tem grandes estímulos para disputar um mandado, porque tem três custos que desaconselham a pessoa a concorrer. O primeiro é o custo de campanha, muito alto. Segundo, é o custo da imagem, já que todos olham o parlamentar com desconfiança, como alguém que só quer se dar bem. O terceiro é o desgaste do exercício do mandato, que é muito grande.”
Na avaliação de Queiroz, os escândalos políticos recentes também podem influenciar a chegada de novas caras ao Congresso. Um exemplo é o caso de 2006, quando 86% dos deputados tentaram se reeleger, mas a renovação ficou em torno de 47%. “Teve o fenômeno do mensalão, que desgastou os parlamentares.” Com o julgamento da Ação Penal 470, entre 2012 e este ano, o episódio voltou à tona e pode ter reflexos eleitorais, acredita o especialista, especialmente no momento em que o país ainda tem na memória a onda de protestos deflagrada em junho passado. “As manifestações tinham como motivação principal a má qualidade dos serviços públicos, a rejeição a atos de corrupção e a exigência de prestação de contas dos parlamentares”, ressalta.
‘Ninguém é de ninguém’ O cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Cesar Romero Jacob também acredita que a renovação no Congresso deve ser alta este ano, mas ele não atrela o fenômeno à insatisfação da sociedade. O problema, de acordo com Jacob, é a fragmentação no sistema eleitoral. “Estamos em uma situação em que ninguém é de ninguém. A convenção nacional diz uma coisa, que não necessariamente a estadual respeita. São 30 partidos, mais de 90 coalizões com correntes políticas diversas e é difícil saber quem representa o quê atualmente”, avalia.
Essa situação, segundo ele, já se via em 2006 e em 2010, mas não de forma tão profunda. Ele acredita que esse cenário, aliado ao desejo de mudança que paira sobre a população, levará a um índice alto de renovação. “Há um desejo de mudança, mas não está claro quem representa a mudança”, afirma. Jacob ressalta ainda que uma renovação não necessariamente significa melhoria do sistema. (Colaborou Amanda Almeida)
Sucessão de escândalos
Relembre episódios polêmicos que abalaram a imagem da Câmara
Anões do Orçamento
O Congresso instaurou, em 1993, a comissão de inquérito que ficou conhecida como CPI dos Anões do Orçamento. Foram investigados 37 parlamentares por suposto envolvimento em fraudes na Comissão de Orçamento. Seis parlamentares perderam os mandatos – entre eles João Alves (foto), apontado como articulador do esquema –, embora o relatório inicial pedisse a cassação de 18. O grupo desviou mais de R$ 100 milhões para favorecer ministros, governadores, senadores e deputados.
O apogeu do mensalão
» O Ministério Público Federal descreve o mensalão como um esquema de pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo. Foi o principal escândalo no primeiro mandato do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2005. Duas CPIs investigaram o tema e movimentaram o cenário político.
Máfia dos Sanguessugas
Em 2006, a Polícia Federal revelou esquema de pagamento de propina a parlamentares por 10% dos valores das emendas. Os deputados fraudaram licitações para comprar mais de mil ambulâncias para prefeituras de seis estados. Segundo as investigações, o esquema, conhecido como Máfia dos Sanguessugas, resultou no desvio de mais de R$ 110 milhões. Uma CPI foi aberta sobre o caso, e 87 deputados e seis senadores acabaram investigados.
Drible no Leão
Em março de 2012, reportagem do Correio Braziliense, dos Diários Associados denunciou a Receita Federal cobrava o Imposto de Renda devido pelos senadores referentes aos 14º e 15º salários. O Senado anunciou que arcaria com a dívida, o que gerou grande repercussão negativa. Parte dos parlamentares anunciou que assumiria as débitos. O constrangimento alimentou o debate sobre a regalia, que acabou extinta no ano passado.
Políticos no banco dos réus
O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), iniciado em agosto de 2012, trouxe novamente o escândalo à tona. A análise durou 69 sessões e só terminou este ano. O STF – presidido pelo ministro Joaquim Barbosa (foto) – decidiu pela condenação de 24 dos 38 réus do processo, entre eles, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Bolsa-claque
Reportagem do Correio Braziliense, dos Diários Associados, flagrou, em maio deste ano, um grupo de 30 pessoas sendo pagas após aplaudir deputados nas galerias do plenário da Câmara durante a votação de projeto que amplia a jornada de trabalho dos caminhoneiros. O jornal registrou o momento do pagamento, feito com cédulas de R$ 20 e R$ 50. Foram feitos pedidos de investigação à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Mesa Diretora.
A farra das férias
Em 24 de junho, nova reportagem do Correio Braziliense, dos Diários Associados, revelou que parlamentares encontraram um novo esquema para onerar a máquina pública. Servidores lotados nos gabinetes da Câmara tiveram os salários aumentados em até 1.300% dias antes de ser exonerados. Passados três meses, os funcionários eram recontratados. Apesar de recente, a mudança no contracheque garantia ao funcionário o recebimento de férias não gozadas em cima do maior valor. Recorrente nos últimos 12 meses, a prática pode ter causado prejuízo de cerca R$ 1.131.443,10 aos cofres públicos no período. A suspeita é de que deputados se apropriavam dos recursos.