Queda de braço por CPI é primeiro embate eleitoral

Antônio Assis
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Christina Lemos

O Senado tornou-se nesta terça a arena de uma queda de braço entre governo e oposição que dá a medida do grau de agressividade da próxima campanha eleitoral. Numa manobra inédita para barrar a CPI da Petrobrás, os governistas, comandados pelo Planalto, apresentaram dois recursos simultaneamente - numa estratégia que deixou a oposição desnorteada.

Enquanto a senadora Gleisi Hoffmann questionava a legalidade do requerimento de CPI da Petrobrás, encabeçado pelo tucano Álvaro Dias, o líder do governo, o pemedebista Eduardo Braga protocalava na Mesa do Senado um novo requerimento de CPI, com 32 assinaturas de apoio, ampliando a apuração da primeira comissão de inquérito para temas espinhosos para PSDB, DEM e PSB.

O esforço governista em conduzir a criação da CPI da Petrobrás para o tapetão criou situações esdrúxulas. Por exemplo, a senadora Gleisi Hoffmann - que fez longa e fundamentada questão de ordem, alegando que uma CPI não pode investigar quatro diferentes fatos que não matém relação entre si - também assina o requerimento da CPI chapa-branca, a governista, que amplia o número de fatos a serem apurados para muito além de quatro temas.

Já o tucano Aloysio Nunes Ferreira, que minutos antes havia elogiado o zelo e a dedicação da senadora Gleisi Hoffmann na defesa ao governo, em seguida bradava: "Não queiram grilar a nossa CPI! Chupins de CPI alheia!"

O episódio mostra que o governo não está brincando quando se trata de instrumentos para barrar a comissão de inquérito. Justo o governo do PT, partido promotor de comissões de inquérito que mudaram o rumo da história recente.

De seu lado, a oposição amargou o erro de ter dado a batalha por vencida cedo demais. De salto alto, os oposicionistas abandonaram a arena na última quinta, dando quatro longos dias para que o governo elaborasse a estratégia fulminante, ao jogar a bomba no colo do aliado Renan Calheiros, que promete responder as questões de ordem até amanhã.

A presidente Dilma teve tempo até de trocar de ministro, instalando Ricardo Berzoini no coração do governo. Guardada em segredo - caso raro no meio brasiliense - a tacada governista desmontou a oposição, que amanheceu o dia tão confiante a ponto de cogitar agregar os deputados à CPI, que se tornaria mista. E encerrou a terça-feira atordoada.

Aécio Neves pode até perder o palanque da CPI da Petrobrás. Mas leva um trunfo para o debate eleitoral: explorará não apenas o fato de que o governo do PT atuou de forma truculenta para barrar uma CPI, mas também os arranhões indeléveis que o episódio causou na imagem de boa gestora de sua oponente, Dilma Rousseff.

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