Evo, o Imorales - Sebastião Nery

Antônio Assis
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João Goulart tinha acabado de assumir a Presidência da Republica em setembro de 1961, depois da renúncia de Jânio e da quase guerra civil para impedir o veto dos ministros militares à sua posse. Estava exausto, uma noite, no Palácio da Alvorada, chamou o sábio Raul Ryff, assessor de imprensa e fiel e silencioso amigo de uma vida inteira:


- Vamos dar uma volta, Ryff. Estou cansado demais.

Pegou um fusca, saiu dirigindo pela adormecida solidão de Brasília. Deixou o Eixo Monumental, meteu-se pelas bordas das superquadras, as   margens do lago e os ínvios caminhos de Taguatinga. O céu unânime lá em cima e os dois rodando para aliviar a dura cangalha do poder.

DILMA

De repente pararam diante de um caminhão de faróis acesos. Estavam na contramão. Jango pôs o fusca sobre o meio fio, deu passagem. O motorista parou bem junto a ele :

- O senhor podia me fazer um favor?  Eu não sou daqui. Estou chegando de Pedra Azul, lá em Minas. Não conheço Brasília. Como é que eu faço para chegar à última quadra da Asa Norte?

- Desculpe, mas eu também não sei. Eu sou novo aqui.

E foi em frente, na noite, exausto do poder.

Dilma também está exausta do poder, coitada. Não é dali, de Brasília. Menina de Minas, professora do Rio Grande, caiu de paraquedas no Planalto. Contou ao ministro Lobão que em incerta madrugada pegou uma  moto e saiu rolando pelas distâncias de Brasília, para limpar a alma…

PALMERIO

Outras historias do poder. Mário Palmério, o romancista telúrico de “Vila dos Confins”, era embaixador do Brasil no Paraguai. Toca o telefone:

- Dom Mário, estava precisando falar com o senhor.  Pode passar aqui pela manhã? Às cinco.

- Da manhã?

- Sim. Chego sempre ao Palácio às cinco. É melhor para conversar.

- Presidente Stroessner, em nome da amizade do Brasil com o Paraguai essa conversa não podia ser às 11 da manhã?

Foi às onze.

STROESSNER

Mário Palmério, escrevendo romances geniais e compondo belas guarânias (“Saudade” é uma das três músicas mais populares do Paraguai), fez da Embaixada do Brasil em Assunção um asilo de políticos  da oposição. Uma tarde chega o então ministro do Exterior, Sapeña Pastor:

- Sr. Embaixador dom Palmério, nosso país deseja e precisa manter as melhores relações com o Brasil. Mas o senhor tem aqui na Embaixada, asilados, mais de 40 inimigos nossos e isto causa os maiores problemas para o governo. O senhor não podia tomar uma providência?

- Pois não, Sr. Ministro. Já estou tomando. Vamos lá em cima, no segundo andar, para o senhor ver a beleza de apartamento que estou preparando para asilados de luxo.

- Mas esta é uma brincadeira de mau gosto.

- Não é, não, Sr. Ministro. O general Stroessner, seu presidente, em outros tempos já foi hóspede desta Embaixada do Brasil.O senhor, em qualquer eventualidade, também pode contar conosco.

Sapeña Pastor saiu e nunca mais tocou no assunto.

ALVARO LINS

Em junho de 1957 Juscelino nomeou embaixador em Portugal o inesquecível pernambucano Alvaro Lins,  dos nossos  maiores intelectuais. Em janeiro de 1959 Alvaro deu asilo na embaixada ao general Delgado, que Salazar queria matar porque Delgado saiu  candidato a presidente da República. Salazar ameaçou invadir a embaixada. Alvaro Lins reagiu.

Quando o general deixou a embaixada para disputar, Salazar o matou.

Serra,  Weffort, Teotônio  Santos, Cesar Maia, José Maria Rabelo, tantos, poderiam ter sido mortos no Chile se não tivessem tido asilo dos EUA, França, Alemanha, México, contra  Pinochet que poderia matá-los. Metade do governo Dilma não existiria se não houvesse asilo político.

Dilma não pode desmoralizar a tradição de asilo do Brasil, punindo o bravo embaixador Saboia que salvou a vida do senador Molina, só para atender a um presidente que na Bolívia é conhecido como Evo “Imorales”.

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