NENA CABRAL COMENTA:‭ ‬A PRESIDENTE É DILMA,‭ ‬MAIS LULA QUE ESTA NO COMANDO DE TUDO‭

Antônio Assis
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Os governos recuaram,‭ ‬mas a guerra continua,‭ ‬mais forte do que nunca.‭ ‬Os manifestantes se descobrem com imenso poder,‭ ‬multiplicam-se pelo país,‭ ‬desdenham os partidos e,‭ ‬ontem,‭ ‬ameaçaram cercar o Palácio do Planalto.

As tropas fiéis à presidente Dilma Rousseff tiveram de montar duas trincheiras:‭ ‬uma de defesa do Planalto,‭ ‬fisicamente‭; ‬outra da própria presidente,‭ ‬politicamente.

Enquanto os policiais fazem um cordão de isolamento para evitar que os manifestantes batam às portas ou nas vidraças do Planalto,‭ ‬os‭ (‬poucos‭) ‬políticos realmente dilmistas tentam neutralizar a base aliada e buscar um rumo para a presidente.‭ ‬Mas quem está no comando é Lula.

O núcleo do poder já discute a conveniência,‭ ‬ou a emergência,‭ ‬de jogar o ministro Guido Mantega às feras,‭ ‬antes que as manifestações e as notícias desastrosas da economia se embolem numa só bomba e caiam dentro do Planalto,‭ ‬no colo de Dilma.

As ruas do país estão em chamas,‭ ‬enquanto a Bolsa derrete,‭ ‬o dólar dispara e o índice de emprego‭ ‬--que se mantém muito bom--‭ ‬já não dá para o gasto político.‭ ‬Foi engolido pelas más notícias na economia e pela frustração popular.
O curioso é que,‭ ‬saia Mantega ou não,‭ ‬a protagonista é outra e o filme está ficando repetitivo.‭ ‬Em janeiro,‭ ‬como escrito neste espaço,‭ ‬a ordem de Lula era‭ "‬destravar‭" ‬a economia e o governo ou,‭ ‬quem sabe,‭ ‬destravar a própria Dilma.‭ ‬Cinco meses depois,‭ ‬lê-se na própria Folha que agora Lula quer dar uma‭ "‬chacoalhada‭" ‬no governo‭ (‬ou,‭ ‬quem sabe,‭ ‬chacoalhar a própria Dilma‭?)‬.

De lá para cá,‭ ‬a coisa desandou rápida e surpreendentemente.‭ ‬A acusação a Dilma é que,‭ ‬em dois anos,‭ ‬ela torrou o patrimônio político,‭ ‬econômico e social que herdou de Lula.‭ ‬A família lulista está tão em pé de guerra quanto os manifestantes que,‭ ‬por pouco,‭ ‬não subiram a rampa do Planalto na quinta-feira de fúria.‭ ‬Até o fechamento desta edição.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo




NENA CABRAL COMENTA‭ ‬:‭ ‬O PAPA FRANCISCO TRAZ NÃO APENAS UM EXEMPLO DE HUMILDADE,‭ ‬FRATERNIDADE E IGUALDADE,‭ ‬MAS TAMBÉM DE SENSO ESTRATÉGICO‭ 




Ele se dispensou de dar recados políticos na curta homilia na basílica de Aparecida e dispensou as autoridades brasileiras de lições morais em seu igualmente rápido discurso aos poderosos no Palácio da Guanabara.‭ ‬Limitou-se à pregação religiosa em ambas,‭ ‬leve,‭ ‬sorridente,‭ ‬defendendo a alegria e a esperança.

O teor político foi reservado ao ambiente laico do hospital São Francisco de Assis,‭ ‬no Rio,‭ ‬em que ratificou sua conhecida posição contrária à descriminalização das drogas e condenou os‭ "‬mercadores da morte‭"‬.‭ ‬Mas ele vinha relevando,‭ ‬pelo menos até ontem,‭ ‬eventuais pressões da ala conservadora da própria igreja e adiando outras questões espinhosas e desagregadoras.

Sua prioridade não é aprofundar divisões,‭ ‬é evitar evasão.‭ ‬Segundo o Datafolha,‭ ‬os brasileiros que se declaravam católicos eram‭ ‬75%‭ ‬da população em‭ ‬1994,‭ ‬caíram para‭ ‬64%‭ ‬em‭ ‬2007‭ ‬e são‭ ‬57%‭ ‬hoje,‭ ‬prenunciando que,‭ ‬muito em breve,‭ ‬serão menos da metade das pessoas no‭ "‬maior país católico do mundo‭"‬.

Nesse contexto,‭ ‬destaca-se um fato político.‭ ‬Quem mais se beneficiou das manifestações de junho e da implosão da popularidade de Dilma foi uma candidata evangélica:‭ ‬Marina Silva,‭ ‬um exemplo concreto a confirmar as estatísticas.

Criada no catolicismo,‭ ‬sua porta de entrada na militância social e na política,‭ ‬ela se converteu às igrejas evangélicas,‭ ‬das quais incorporou a linguagem,‭ ‬a imagem,‭ ‬até o gestual.

Não se sabe até que ponto a religião conta a favor ou contra a eleição de Marina,‭ ‬mas não deixa de ser um curioso dado de análise que,‭ ‬justo no tal maior país católico,‭ ‬a candidata que está em segundo lugar seja uma ex-católica,‭ ‬atual evangélica.

A grande missão do papa Francisco no Brasil é estancar a sangria.‭ ‬Ou seja:‭ ‬somar,‭ ‬não ajudar a subtrair.


Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo





NENA CABRAL COMENTA:‭ ‬A MUDANÇA DE PAISAGEM DO PODER‭ ‬ ‭ 

Absorvida a primeira onda de choque do abalo sísmico que mudou a paisagem do poder,‭ ‬ganha corpo no Planalto a percepção de que é preciso entrar em agosto com medidas de impacto‭ ‬--e que fujam de bruxarias como o malfadado plebiscito da reforma política.

A janela é curta,‭ ‬de duas semanas.‭ ‬A atual está tomada até domingo pela presença midiática do papa Francisco.‭ ‬Já a seguinte ainda não terá a volta do Congresso,‭ ‬onde o clima é de guerra campal e as faturas não param de ficar mais caras.

Segundo esse raciocínio,‭ ‬é agora a hora de mexidas,‭ ‬mas não uma ampla reforma ministerial,‭ ‬que só deve ocorrer mais à frente e poderá embutir alguma redução do desenho da Esplanada como vacina eleitoral.

Para esses governistas,‭ ‬é preciso tratar já de dois pontos nevrálgicos para a batalha da reeleição:‭ ‬economia e articulação política.

Guido Mantega inexiste como fiador de credibilidade.‭ ‬Dilma gosta de insistir em erros,‭ ‬e a inflação do meio do ano mantém o balão de oxigênio ligado sob os escombros na Fazenda.‭
‬Mas a economia está parada como um todo,‭ ‬como apontou ao‭ "‬Estado de S.‭ ‬Paulo‭" ‬Alexandre Tombini,‭ ‬presidente do BC.‭ ‬Entrevista que,‭ ‬por desancar a política fiscal na véspera do corte orçamentário de mentirinha anunciado por Mantega,‭ ‬foi vista como um manifesto.

Se é isso,‭ ‬não se sabe,‭ ‬mas Tombini tem hoje qualidades para ocupar a cadeira de Mantega,‭ ‬em caso de troca:‭ ‬a confiança da chefe e,‭ ‬supõe-se,‭ ‬o dom de acalmar os mercados.‭
‬Na articulação,‭ ‬vital para evitar que o governo passe o resto do ano sob fogo,‭ ‬o xadrez é mais difícil.‭ ‬Os nomes mais cotados para substituir Ideli Salvatti são Ricardo Berzoini e Aldo Rebelo,‭ ‬ambos com resistências de todos os interessados.

Para os defensores do uso da janela,‭ ‬o tempo corre.‭ ‬No governo,‭ ‬a expectativa é a de que a segunda onda dos protestos de rua venha no‭ ‬7‭ ‬de Setembro.‭ ‬E que seja ainda maior.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo

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