Prédios-caixão sob risco na RMR

Antônio Assis
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Luiz Filipe Freire
Folha-PE

A desocupação do edifício Emílio Santos, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, na última quarta-feira, torna constante a preocupação entre autoridades e moradores de prédios do tipo caixão. Conforme um mapeamento feito pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), cerca de 4,7 mil empre­endimentos dessa natureza instalados na Região Metropolitana do Recife apresentam problemas estruturais que os colocam numa situação de risco. Desses, 110 já passaram por interdição. O medo de ter que sair do lar a qualquer momento é o que mais atormenta quem reside nessas edificações.
É o caso das vizinhas Cristina Viana e Neide Araújo, que mo­ram há 31 anos na quadra 3 do Conjunto Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. Os apar­tamentos delas ficam num dos 69 edifícios que estão tendo a estrutura avaliada na localidade. Ao redor, o cenário não é animador. “Vários prédios atrás e na frente do nosso já foram de­socupados porque os laudos apontaram que eles tinham ris­co. O nosso é um dos poucos em que o pessoal ainda não te­ve que sair”, diz Cristina. “No meu apartamento, não tem rachadura. Mas a gente vive constantemente nesse medo: ve­mos os outros indo embora e fica­mos na expectativa sobre o que o laudo do nosso prédio vai dizer”, disse Nei­de.

O operador de cargas Florisberto Pereira, por sua vez, tem preocupação semelhante. Morador de um dos imóveis do Conjunto Residencial Boa Viagem, no Recife, ele teme que a situação de colapso que já afetou alguns edifícios da comunidade atinja o teto em que vive. Por lá, 18 blocos já foram interditados e dois prédios chegaram a ser demolidos, em 2010, por conta do risco de sinistro. “Dizem que a situação ficou assim por causa do movimento do Metrô, que passa bem ao lado. O meu apartamento fica em outro bloco distante e lá não vejo rachaduras. Só que, como é prédio-caixão, sempre dá medo”, declara.

O coordenador da Unidade de Tecnologia da Habitação do Itep, Carlos Wellington Pires, explica que erros de cálculo nos projetos de edificação são motivos determinantes para as dificuldades constatadas nesses empreendimentos. “Muitas ve­zes, esses edifícios foram feitos sobre um sistema não-normatizado. Reformas indevidas, com a retirada de paredes, tam­bém comprometem a estru­tura. Mas, enquanto não caírem, há chance de recuperação”, atesta.

Já a gestora de Análise de Risco Tecnológico da Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife (Sedec), Elaine Holanda, reforça que, de posse do mapeamento de imóveis em risco, é possível direcionar as ações  na prevenção de desastres, priorizando, por exemplo, a necessidade de interdições. “Mesmo assim, a recomendação é de que, se os moradores perceberem rachaduras do dia para a noite ou ouvirem estalos, devem ligar para o telefone 0800.081.3400. Uma vistoria será feita para verificar a necessidade de desocupação, como foi o caso do Emílio Santos, na semana passada”, apontou.

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