Em entrevista a livro sobre a era petista no poder, Lula reconhece os erros do partido e diz que a tarefa do PT é voltar a acreditar em valores banalizados pela disputa eleitoral
Sérgio Pardellas
Istoé
O ex-presidente Lula atravessou as turbulências políticas dos últimos oito meses esquivando-se das polêmicas. Antes, durante e depois do julgamento de cabeças coroadas do PT no STF, período em que tanto ele quanto o seu governo foram questionados ética, moralmente e por práticas de corrupção, Lula limitou-se às articulações políticas e a proferir discursos para plateias específicas ao lado da presidenta Dilma Rousseff. Na única vez em que falou com a imprensa, ele preferiu não discorrer sobre temas espinhosos envolvendo o PT e sua gestão. O silêncio foi quebrado em entrevista de 20 páginas para o livro “Lula e Dilma, 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil”, da Editora Boitempo. Ao fazer um balanço sobre a era petista no poder, Lula referiu-se ao momento seguinte à denúncia do mensalão como o mais delicado do governo e voltou a reconhecer os erros cometidos pelo PT, reeditando postura adotada durante a eclosão do escândalo em 2005. “O PT cometeu os mesmos desvios que criticava. O PT precisa voltar a acreditar em valores banalizados por conta da disputa eleitoral. É provar que é possível fazer política com seriedade. Pode fazer o jogo político, mas não precisa estabelecer uma relação promíscua para fazer política”, disse Lula. Na avaliação do ex-presidente, o PT deveria “reagir” e empunhar a bandeira da reforma política para aprovar o financiamento público de campanha, caso contrário “a política vai virar mais pervertida do que já foi em qualquer outro momento”. “Às vezes eu tenho a impressão de que partido político é um negócio”, emendou.