Estudantes dão apoio a colega cadeirante

Antônio Assis
0
Luis Filipe Freire
Folha-PE


A estudante Débora Soares sabe bem das dificuldades para se locomover. Dependente de uma cadeira de rodas há quase uma década, a jovem de 21 anos enfrenta, todos os dias, a jornada de esperar por ônibus com elevadores e de encarar calçadas esburacadas. Nas ruas, nem sempre há rampas para facilitar o acesso. Mas a luta dela se une a de muita gente não só nos desafios da estrutura urbana que pouco privilegia quem tem alguma limitação. No caso de Débora, as dificuldades existem na faculdade que ela passou a frequentar desde a semana passada.
A jovem foi chamada de uma lista de remanejamento para cursar Engenharia da Computação na Escola Politécnica de Pernambuco (Poli), que é vinculada à Universidade de Pernambuco (UPE). Moradora do município de Ipojuca, ela resolveu mudar-se para Camaragibe. Tomou essa decisão desde o início do ano porque sabia que, caso fosse aprovada, teria dificuldades para contar com ônibus adaptados com destino ao bairro do Benfica, onde fica a instituição. Alugou uma casa, providenciou os móveis e aguardou o resultado. “Mas, quando chegou no primeiro dia, fiquei sabendo que a aula seria nas salas do terceiro andar e lá não têm elevadores, nem muitas rampas”, relata Débora.

A partir de então, a jovem ganhou a solidariedade dos demais estudantes e de professores. No segundo dia de aula, a diretoria providenciou que as lições fossem ministradas em cômodos do térreo e a aluna não precisou mais passar pelo constrangimento de ser carregada escada acima. A medida, porém, resolveu o problema momentaneamente. Débora se preocupa com o futuro, quando terá que frequentar laboratórios que não podem ser deslocados para andares inferiores.  “Disseram que, em 101 anos de história, eu sou a primeira aluna cadeirante de lá. Então, eles não estavam preparados. Sei que estão fazendo o possível, mas me preocupo com o próximo período, em que eu vou precisar ter aulas em outros blocos. Esse deslocamento não vai ser tão simples”, teme.

Ao mesmo tempo, os colegas de classe se mobilizaram para amenizar esses transtornos. Amanhã, eles devem participar de um mutirão para consertar a calçada lateral da faculdade, possibilitando que Débora desça do ônibus e chegue à entrada sem tantos contratempos. De acordo com o secretário-geral do Diretório Acadêmico da instituição, Rafael Lima, é o mínimo que pode ser feito em prol da inclusão da nova estudante. “Como a instituição é pública e depende de licitação para fazer qualquer serviço, resolvemos nos mobilizar para pagar um pedreiro. O que pudermos fazer para ajudá-la, vamos fazer”, garante o estudante.

A coordenadora administrativa da Escola Politécnica, Eliane Dourado, por sua vez, admitiu que a falta de equipamentos de acessibilidade é uma falha grave, mesmo após tantas leis que garantem os direitos das pessoas com deficiência.Um projeto para a adaptação da estrutura também já está pronto há cinco anos, mas aguarda a liberação de verba. “Por enquanto, já fizemos o que está ao nosso alcance até que o recurso saia. Temos banheiros adaptados e algumas rampas. Com a chegada da aluna, estamos fazendo intervenções pontuais nas salas e laboratórios em que ela vai precisar estudar. Mas qualquer serviço mais complexo necessita de licitação. Vamos tentar acelerar esse processo”, afirmou.

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)