
Renata Coutinho
Folha-PE
Hoje, um dos visionários da política pernambucana completaria 100 anos. Foi com carisma, audácia e talento que João Lyra Filho marcou seu nome no staff dos governantes mais empreendedores da história do estado de Pernambuco. Foi ele quem, pela primeira vez, falou em plano gestor para crescimento ordenado na cidade de Caruaru, da década de 1960. Foi um inovador da administração pública, quando a palavra “inovação” era encarada com desconfiança. E foi além, se posicionando contra as restrições de direito do Golpe Militar de 64 e no apoio às forças de redemocratização do Brasil.
O centenário de nascimento de João Lyra Filho será lembrado, hoje, com um missa, a partir das 19h, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Caruaru. Após a celebração religiosa, a Câmara de Vereadores da cidade também homenageará o empresário com uma sessão solene, às 20h30. Nascido na pequena cidade de Lagoa dos Gatos, no Agreste de Pernambuco, em 12 de março de 1913, João Lyra Filho, ainda na adolescência, construiu os laços que o amarram ao município de Caruaru.
Foi na capital do Agreste que João Lyra Filho aprendeu a ler e a escrever com a esposa Guiomar - já na fase adulta -, também foi na cidade onde prosperou no trabalho, passando de caminhoneiro a dono da viação Caruaruense, e um dos mais prósperos empresários da região. A inquietude o levou à política, na campanha estadual para governador em 1958, quando apoiou o candidato da antiga União Democrática Nacional (UDN), Cid Sampaio, contra Jarbas Maranhão, do Partido Social Democrata (PSD). A eleição fez história pela margem esmagadora de votos da UDN contra o PSD. Mas foi em 1959, que a trajetória política do empresário realmente começou, ao ser eleito, pela primeira vez, prefeito do município de Caruaru. “Ele conseguiu formar na cidade a frente popular. Outra no Recife também elegeu (Miguel) Arraes em 59. Foram as duas primeiras frentes populares de Pernambuco”, comentou o filho de João Lyra Filho, o vice-governador do Estado, João Lyra Neto.
Lyra Filho foi ainda foi prefeito da Capital do Agreste por outra legislatura (1973-1976) já pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), mas antes passou pela Câmara Federal de 1966 a 1970. “Na época da revolução, do Golpe, ele não tinha mandato, e Fernando (Lyra) já militava. Quando, em 65, foi criado o MDB, ambos entraram. E se candidataram a deputado federal e estadual, respectivamente, e se elegeram. Daí por diante, começaram a trabalhar juntos na oposição”, relembrou João Lyra Neto, sobre os caminhos trilhados pelo pai e pelo irmão (Fernando Lyra) no processo de redemocratização do País. O cientista político Arnaldo Dantas também destacou a importância da família Lyra contra as imposições dos militares. “Ninguém pode falar da luta pela resistência democrática sem falar de Lyra”, frisou Dantas.