JC Online
A premiação de Mo Yan foi recebida com alegria pelos
órgãos do governo chinês, mas não ficou incólume a polêmicas. A seu
favor se pronunciou o Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista
que comanda a China, através do seu site e o especialista em literatura
chinesa entre os jurados do Nobel, Göran Malmqvist. “É uma das melhores
escolhas que a Academia Sueca fez. Ele é brilhante”, disse.
O nome de Mo Yan, conhecido pela crítica ocidental como uma espécie
de “Kafka chinês”, entretanto, foi questionado principalmente por sua
relação com o regime chinês – ele ocupa a vice-presidência da Associação
de Escritores Chineses, órgão literário oficial do país. “Há pessoas
que dizem que ele não se afasta de poder”, diz Noel Dutrait, que
traduziu o satírico The republic of wine, “mas, de qualquer
maneira, ele escreve e diz o que pensa”. “Ele sempre se esforça para
mudar seu estilo a cada novo romance”, ressalta Dutrait.
O autor até já foi censurado pelo governo em 1995, pelo livro Big breasts & wide hips,
mas acatou a ordem e retirou a obra de circulação. Por isso, é apontado
como um escritor alinhado ao regime, ainda que teça críticas sociais em
suas narrativas. Uma das amostras disso é que, em 2009, ano em que a
China foi homenageada na Feira de Frankfurt, Mo Yan boicotou o evento
por não aceitar a presença de nomes banidos pelo regime.
Ao jornal português Público, o artista plástico dissidente chinês Ai
Weiwei contestou a escolha. “Dar este prêmio a um escritor que
conscientemente se dissociou das lutas políticas da China de hoje? Acho
que é quase intolerável”, disse. Para muitos críticos, a premiação foi
uma forma da Academia Sueca se reconciliar com o governo chinês, que
sempre protestou contra a escolha do dissidente (agora naturalizado
francês) Gao Xingjian.