Treze Anos Sem o Dom da Paz

Antônio Assis
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Júlia Veras
Folha-PE

O amigo do povo, um homem em forma de oração, um indivíduo que agia de acordo com o que pregava. Há treze anos, o mundo perdia aquele que foi um dos grandes expoente da luta pelos direitos humanos, Dom Helder Câmara. Mesmo tantos anos depois, ainda há brilho e lágrima nos olhos daqueles que conviveram com ele e tentam defini-lo em palavras. Neste domingo, uma missa na Igreja das Fronteiras, onde o Arcebispo morou, reuniu uma caravana de 200 peregrinos cearenses, que todos os anos vêm prestar uma homenagem. “Somos de várias paróquias do Ceará, e todos os anos nos fazemos presentes na peregrinação”, pontuou o padre Sebastião Sá.

Muitas das pessoas que conviveram com ele, não esquecem da sua presença. É o caso da aposentada Maria Aparecida de Vasconcelos, 74 anos. “Era uma pessoa de uma simplicidade impressionante, alguém que vivia entre os pobres, que os defendia em todas as situação. Eu o encontrava muito, passeando cedinho aqui por perto, dando o seu dinheiro aos que não tinham nada”.



Célia Trindade, integrante do conselho do Instituto Dom Helder Câmara, conheceu o religioso na época em que participava do movimento estudantil, na década de 70. Ela não esquece do enterro do padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, que foi torturado até a morte, em maio de 1969, no Recife. A morte era um recado claro dos militares para que dom Helder se calasse. “Durante o enterro, centenas de estudantes foram a pé para o cemitério da Várzea. Os militares o ameaçaram, dizendo que se houvesse qualquer discurso, todos seriam metralhados. Havia tanques de guerra no nosso caminho. Ele soube fazer a homenagem de uma forma incrível: pediu a todos que fizessem silêncio em homenagem ao padre. Pouca vezes as pessoas ouviram um silêncio tão contundente e com esse ato, ele salvou muitas vidas”, ressaltou, emocionada.

Quem também tem muito a contar é a irmã de caridade e enfermeira que cuidou de dom Helder até o dia de sua morte, Catarina Damascena. Aos 75 anos, ela pode dizer que foi uma testemunha de grandes momentos da história do Brasil. Ela cuidou do governador Miguel Arraes durante o tempo em que ele esteve preso, logo que explodiu o golpe de 64. Viveu ao lado de dom Helder nos últimos 24 anos da sua vida, e esteve ao seu lado quando ele proferiu as suas últimas palavras antes de morrer, às 22h20 do dia 27 de agosto de 1999. “Até o final, ele foi uma pessoa tranquila, que não dava trabalho para nada. Ele vivia para os necessitados”.

A missa fez parte de uma série de homenagens a dom Helder Câmara, em memória a passagem dos 13 anos de sua morte. Hoje, data em que morreu, a partir das 9h, na Igreja da Sé, será realizada uma grande celebração comandada pelo arcebispo dom Fernando Saburido. Na ocasião, acontecerá o traslado dos restos mortais do arcebispo também conhecido por Dom da Paz, para uma capela lateral dentro da mesma catedral, juntamente com os ossos de dois de seus colaboradores mais próximos ao longo da sua trajetória religiosa em Pernambuco: dom José Lamartine e do Padre Henrique. Será a primeira vez que os restos mortais de um padre poderão descansar em uma catedral.

Na próxima quarta-feira, no auditório do sexto andar da Assembleia Legislativa, amigos de Dom Helder, artistas populares e voluntários do Comitê da Ação da Cidadania Pernambuco Solidário prestarão uma homenagem, a partir das 11h, ao arcebispo e ao sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, falecido há 15 anos, dia 9 de agosto.

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