Geração internet: Quando nem as medalhas olímpicas inspiram

Antônio Assis
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Nikita culpa a falta de incentivo familiar pelo desinteresse por esportes

Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem

Do NE10

A medalha olímpica não reluz mais como ouro - ou prata ou bronze. O orgulho de representar o país, a emoção do pódio não inspiram como antigamente. Profissionais que há décadas formam campeões no Recife têm o mesmo dircurso. Treinadores de natação, judô e atletismo são unânimes ao dizer que a prática de esportes foi excluída da lista de prioridades das famílias.

Modalidade que trouxe 19 condecorações olímpicas ao Brasil, o judô viveu seu auge em 1988, quando no topo do pódio de Seul estava Aurélio Miguel. Escolinhas abarrotadas, o País aprendeu o significado do ippon. Mas a época áurea ficou para trás. Mesmo com quatro medalhas garantidas em Londres, o sucesso do esporte não levou alunos a vestirem o quimono em 2012. "A procura que tivemos foi de ex-atletas que se empolgaram com os resultados do torneio. Mas por parte de alunos novos, quase não percebi interesse", diz Sergio Nagai, da Associação Nagai.

João Reynaldo, o Nikita, 40 anos dedicados à natação no Recife, reconhece que a maratona olímpica de alguma forma chama atenção. Porém a ideia de que ela desperte a gana pelo esporte foi derrubada na última década. Importante peça na formação da pernambucana Joanna Maranhão, o treinador aponta a falta de incentivo familiar para a baixa procura. 

"O fácil acesso a jogos eletrônicos desvia a atenção das crianças, que não se interessam mais por atividades que precisam de esforço. Agora, com pai e mãe trabalhando fora de casa, ninguém quer o compromisso de ter que levar os filhos para as aulas. Com as crianças em casa, eles ficam tranquilos", reflete Nikita.

A frequência nas academias também entra nesta conta negativa. A imensa maioria dos alunos cai na piscina duas vezes por semana, quando o recomendado é que se nade todo dia. "A desculpa é que tem inglês, piano, que falta tempo. Sem perceber evolução do condicionamento físico e da técnica, a criança se desmotiva", alerta. O treinador é de uma época em que o período ocioso das férias era estímulo para a natação. Diferente tempo os anos 70. "Lembro que no mês de julho dobrava o número de alunos. Hoje em dia, todos desaparecem." Situação que, por ora, nem as medalhas conquistadas por César Cielo e Thiago Pereira em Londres parecem reverter.

INTERNET - O atletismo não é o principal destaque no rol verde e amarelo de conquistas olímpicas. Mas garantiu importante presença na coleção de medalhas com atletas como Vanderlei Cordeiro de Lima (bronze em Atenas/2004) e Maurren Maggi (ouro em Pequim/2008). Praticado essencialmente pelo público de baixa renda, tem há alguns anos em comum com a natação e o judô o mesmo inimigo número 1: a internet. "Se você for a uma lan house de bairro, vai ver que de 70% a 80% dos frequentadores são crianças que poderiam estar fazendo um esporte", lamenta Daniel Gonçalves, treinador do Sport e Santos Dumont.

Daniel conta que, comumente, seus alunos chegavam na escola querendo ser campeões brasileiros. "Na Olimpíada passada teve mais gente procurando o esporte. Nesta, só me lembro de um garoto de 16 anos que diz querer ser igual a Usain Bolt. Ele já tem um jeito próprio de comemorar as vitórias, inspirado no ídolo", comenta. 

No caso do atletismo, o esporte tem ainda importante papel social. "Sonho é sonho. Você tem que deixar que a pessoa curta seu sonho e ela própria vai perceber se tem condição de seguir a carreira. Estou sempre motivando. Mas se meu aluno não for um atleta de ponta, pelo menos estará saindo da marginalidade em um ambiente saudável", afirma o professor.

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