HAVANA (AE-AP/DJ) - O presidente de Cuba, Raúl Castro, disse ontem que seu governo está disposto a fazer as pazes com os Estados Unidos, inimigo da época da Guerra Fria, e se sentar para discutir qualquer assunto, contanto que seja uma conversa entre iguais. Raúl não fez nenhuma menção à morte, no domingo passado, do dissidente cubano Oswaldo Payá, que faleceu em um acidente de carro.
No final da cerimônia do Dia da Revolução, que marca o 59º aniversário do ataque ao Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, Castro pegou o microfone para falar, aparentemente de improviso.
Ele repetiu afirmações anteriores de que nenhum assunto será proibido, incluindo as preocupações norte-americanas sobre democracia, liberdade de imprensa e direitos humanos na ilha.
“Quando eles quiserem, a mesa está posta. Isso já foi dito por meio de canais diplomáticos”, disse Castro. “Se eles quiserem conversar, nós iremos conversar.” Mas Washington terá de se preparar para ouvir as reclamações de Cuba sobre a condução dessas mesmas questões nos Estados Unidos e em países europeus, aliados norte-americanos, acrescentou Castro. “Não somos colônia ou fantoche de ninguém”, afirmou o presidente cubano.
Washington e Havana não têm relações diplomáticas há cinco décadas. O embargo norte-americano de 50 anos proíbe praticamente todo o comércio e as viagens para a ilha. Washington insiste que Cuba deve instituir reformas democráticas e melhorar a situação dos direitos humanos antes do levantamento do embargo.
Dias depois de o importante dissidente Oswaldo Payá ter morrido num acidente de carro, Castro usou palavras duras contra a oposição na ilha, acusando-a de complô para derrubar o governo. O governo dos Estados Unidos pediu uma investigação “completa e transparente” sobre a morte de Payá. O ativista começou a protestar por mudanças políticas e econômicas em Cuba no final da década de 1980. Em 2002, Payá recebeu o prêmio Sakharov, concedido pelo Parlamento Europeu.
As autoridades cubanas dizem que Payá perdeu o controle do carro alugado que dirigia em uma rodovia e o veículo bateu em uma árvore. Outro dissidente cubano que estava com Paya morreu, embora dois ativistas, um sueco e outro espanhol, que estavam no carro, tenham sobrevivido com ferimentos leves. Os dois europeus permanecem em Cuba e não deram nenhuma declaração sobre o acidente.
“Algumas pequenas facções fazem nada mais do que tentar estabelecer as bases e esperar que, um dia, o que aconteceu na Líbia aconteça aqui, o que estão tentando fazer na Síria”, disse Castro.