Por Renata Berenguer *
A recente manifestação de Pedro Henrique Reynaldo, ex-presidente da OAB/PE, revela uma prática comum em tempos de eleições na Ordem: o "rei posto" tenta recuperar o protagonismo, reivindicando um espaço que já deixou, numa tentativa de reescrever sua própria história, neste caso, apresentando a defesa de gênero como um artifício retórico para favorecer uma única candidata nas eleições do Quinto Constitucional que ele apoia.
Até pouco tempo, Pedro Henrique era visto em almoços e eventos ao lado de Ingrid Zanella, demonstrando total alinhamento com a gestão atual. Pernambuco sempre contou com ex-presidentes admiráveis, mas tem sido um hábito que, a cada eleição, um deles busque retomar os holofotes, virando-se contra antigos aliados, movido por ambições pessoais. Esse comportamento não é novidade para quem acompanha o histórico de Pedro. No passado sua chapa contou apenas como uma única mulher na diretoria e subsequentemente, sob sua coordenação houve um fato irreverente, em que incluiu inicialmente uma mulher em sua chapa, mas, posteriormente, essa mulher foi substituída por ninguém menos que o próprio sócio dele. Esse tipo de artifício revela, já naquela época, o seu real objetivo.
A resolução que Pedro hoje contesta foi aprovada em abril de 2022 e amplamente festejada. Curiosamente, sua súbita defesa da paridade só surgiu quando sua candidata pessoal entrou na disputa do Quinto Constitucional; antes disso, ele nunca se opôs. Ainda mais contraditório é o fato de Pedro não apoiar outra candidata ao Quinto, que foi sua vice e a única mulher em sua chapa. Agora que seus interesses estão em jogo, ele tenta criar a impressão de que a mulher não tem sido prestigiada.
A adoção da paridade na lista sêxtupla não é um ato isolado, mas parte de um conjunto de avanços indiscutíveis promovidos pela OAB/PE em prol da equidade de gênero e raça. A nossa Ordem foi a quarta seccional do país a adotar a paridade na lista do Quinto Constitucional, o que é de grande relevância considerando que muitos estados do Brasil ainda não contam com essa mudança e que não há uma regra estabelecida pelo Conselho Federal sobre o tema. Na Paraíba, a paridade foi adotada recentemente, mas a cota racial mínima de 30% ainda não foi implementada. Lá, mesmo com uma mulher sendo a mais votada, o quarto candidato mais votado- um homem - não entrou na lista devido à aplicação da paridade. Isso demonstra que a realidade é muito mais complexa do que Pedro tenta simplificar. Ao contrário do que ele sugere, a atuação da Ordem tem sido firme e à frente no que diz respeito ao tema.
De maneira contraditória, Pedro agora promove a candidatura de um homem do interior, claramente tentando impedir a eleição de Ingrid . Essa estratégia só reforça a falta de coerência em seu discurso. Fica claro que, quando o interesse pessoal bate à porta, os princípios tendem a pular pela janela.
Não é salutar alinhar a regra pela exceção, nunca na história de Pernambuco tivemos três mulheres como as mais votadas na lista do Quinto Constitucional. A presença feminina sempre foi esparsa, e essas conquistas, até então, eram raras. Esse avanço é significativo, mas sabemos que ainda há muito a ser feito. Continuaremos trabalhando para que a realidade de Pernambuco sirva de exemplo ao Conselho Federal, e que, em breve, possamos aprovar uma nova redação em que a paridade de gênero não seja apenas uma meta mínima, mas uma regra efetiva e estabelecida.
*Renata Berenguer é advogada e Conselheira Federal da OAB.