Política: Um jogo de Narrativas

Antônio Assis
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Jurandir Andrade

Política é um jogo de ideias e narrativas. A maioria direciona um discurso específico para cada grupo do seu interesse pessoal ou coletivo. A narrativa de alguns eleitores de que Raquel Lyra e o seu pai João Lyra sempre foram de esquerda me parece equivocada, pelo fato de que pertencer a um partido não assegura a ninguém essa identidade se não houver coerência na prática com esse pertencimento ideológico. É interessante lembrarmos que quando Aécio Neves apadrinhou ambos, João Lyra e sua filha para ingressarem no PSDB em 2015, o partido já não era o mesmo de quando Fernando Henrique foi presidente nos anos de 1995 – 2003. O PSDB, ainda seguia com projetos de abertura econômica e privatização, o que fragilizava a proposta de social democracia original, mas já estava no centro e após o apoio radical à Bolsonaro nas eleições de 2018, deu passos largos e definitivos para uma posição centro-direita. Portanto, independente de Raquel Lyra expressar nessas eleições o seu apoio a qualquer oponente de Lula, isso já pode ser evidenciado historicamente nas atitudes dela e do seu partido atual.

Raquel Lyra fala que Lula não é muleta e que não precisa estar ao lado desse ou daquele candidato à presidência, no entanto, mesmo em uma semana de pesquisas não encontraremos uma crítica sequer dela ao governo Bolsonaro durante seu mandato frente à prefeitura de Caruaru. Já Marília Arraes, não é oportunista, porque sempre esteve ao lado da esquerda, enquanto esquerda. Sempre esteve ao lado de Lula. Sempre foi oposição ao candidato e atual presidente. Quem está sendo mais corajosa e coerente?

Diante do aquecimento acirrado das eleições atuais, é importante percebermos que a maioria dos sites, jornais, empresas e personalidades que defendem há anos os discursos de direita, divulgaram nos meses setembro e outubro um ranking político discriminatório que aponta Marília Arraes como a pior deputada de PE. Infelizmente, muitos eleitores assimilaram isso com a maior naturalidade, em especial, os que já têm divergências ou preconceitos em relação à candidata, aos seus projetos ou partido. Essa postura é muito perigosa, porque antes de qualquer consideração diante do que é divulgado na mídia é importante que o eleitor faça uma pesquisa imparcial, séria e competente sobre o tema. Mais que em qualquer momento da história nós precisamos refletir sobre nosso próprio percentual de compromisso e cidadania no acompanhamento dos parlamentares eleitos, especialmente em relação aos “nossos representantes”, se há coerência diante de suas decisões e projetos aprovados, quer seja nas Câmaras, no Senado ou Executivo.

Historicamente, é inegável que Marília e Raquel, bem como os familiares de ambas têm ou já tiveram vínculos com o PSB, isso por si só já desmonta a narrativa de que apenas uma delas já trilhou esse caminho conflituoso. O fato é que ambas romperam com um ou outro partido para serem acolhidas em candidaturas mais ousadas e mais coerentes com seus projetos ideológicos atuais.

Enfim, no atual contexto político social no qual nos aproximamos do abismo da barbárie social, quando os eleitores precisariam estar mais seguros e tranquilos diante de suas escolhas partidárias e ideológicas, infelizmente muitos estão confusos diante de tantos bombardeios de retóricas bem ou mal articuladas pelos meios de comunicação, por um amigo ou familiar. Seguimos beirando a irresponsabilidade quando nos sujeitamos ao risco de nos jogarmos nas ondas de falsas narrativas, que favorecem esse ou aquele interesse particular, sem saber a história ou o compromisso de quem as defende, se têm compromisso com a verdade ou se ao menos são sensíveis às demandas populares dos empobrecidos.

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