Jovens enfrentam barreiras para o primeiro emprego

Antônio Assis
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Jovem à procura do primeiro emprego
Foto: Anderson Stevens

Eduarda Barbosa
Folha de Pernambuco

A jovem Tayna Gonçalves, de 20 anos, está iniciando a vida profissional, à procura de uma vaga no mercado de trabalho. Com formação no ensino médio completo, Tayna organizou a documentação e foi a Agência do Trabalho, localizada na Rua da Aurora, no centro do Recife, para levar o currículo e tentar um emprego. As preocupações são constantes para jovens que, neste momento, começam a pensar estratégias de futuro no mundo do trabalho. Os obstáculos estão presentes: falta de oportunidades, dificuldade na transição do ensino médio para o mercado de trabalho e confiança na geração.

“Estou procurando o primeiro emprego, colocando o currículo nos locais de trabalho, mas ainda não fui chamada. Estou tentando vaga em shoppings, como atendente, em mercados como caixa, e está difícil de encontrar. Não tenho experiência anterior de trabalho, nem curso”, disse Tayna, na saída da Agência do Trabalho. Assim como ela, 21 milhões de jovens estão desempregados na América Latina, de acordo com dados das organizações internacionais: Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Uma pesquisa divulgada pela Arcos Dorados, operadora do McDonald’s no Brasil, aponta que 77% dos jovens em países da América Latina afirmam que uma das principais barreiras na hora de procurar emprego é a necessidade de experiência anterior. Ainda pelos dados, 46% dos jovens esperam que em um primeiro emprego não se exija experiência prévia.

“Essa é a questão chave há muito tempo: ‘como estão me pedindo experiência se eu estou pedindo a primeira experiência?’. Talvez, um dado alentador seja de que no Brasil o jovem reclama um pouco menos disso do que no resto da América Latina. Então, isso nos abre uma perspectiva de que talvez no Brasil, as empresas já tenham se dado conta de que não adianta só exigir, é preciso também oferecer”, explanou Ilton Teitelbaum, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Hélio Zylberstajn, nesse contexto, os mais vulneráveis são os jovens que têm ensino médio completo. “Entre 25% e 30% dos jovens estão desempregados no Brasil. As escolas não têm a tradição de prepará-los para o mercado de trabalho. E nosso sistema obriga esses estudantes a escolher precocemente a profissão que vai seguir”, avaliou o professor.

“Acho que quando o País entrou em crise, as empresas passaram a ficar mais criteriosas na escolha dos trabalhadores. Quando entrei em uma loja como vendedor em um shopping, eles não me pediram experiência, agora estão exigindo sim. Então, vejo que as pessoas que não têm experiência ficam mais à deriva”, contou o jovem Márcio Silva, de 26 anos, que deu entrada no seguro-desemprego e vai tentar voltar ao mercado.

Maior gerador de primeiro emprego do Brasil, a empresa McDonald’s tem 90% do seu quadro de funcionários com pessoas entre 16 e 25 anos, o que representa 40 mil jovens empregados. São dois milhões de clientes por dia no Brasil em 2,5 mil pontos de venda pelo País. “Nós geramos uma quantidade muito grande de oportunidade de primeiro emprego através de uma metodologia de trabalho muito própria, que é o segredo do nosso sucesso como empresa, como negócio. E por isso que é bom que as pessoas venham sem experiência prévia porque elas aprendem conosco, embora isso não elimine pessoas que tenham experiência de trabalho”, pontuou o diretor de Recursos Humanos do McDonald’s, Marcelo Nóbrega.

Há cinco anos trabalhando em uma unidade do McDonald’s, Joemerson Valentim, de 21 anos, encontrou na empresa a oportunidade do primeiro emprego. “Eu estava terminando um curso de inglês e informática de uma bolsa que tinha ganhado de uma escola pública. Foi quando uma selecionadora do McDonald’s me viu e escolheu”, disse o trabalhador, que começou como atendente e hoje exerce o papel de treinador na unidade.

A pesquisa da Arcos Dorados foi desenvolvida pela Trendsity e a amostra ouviu 1800 jovens entre 16 e 27 anos de cinco países da América Latina: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Peru.