‘Cada um pode ajudar do seu jeito’, diz francês que pedalou 1.750 km pelos Observatórios Sociais

Antônio Assis
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OS Brasília

Foram 25 dias pedalando para visitar 25 municípios entre Brasília e Rio de Janeiro. Além do sol escaldante, houve trechos inóspitos de estradas de terra, para evitar rodovias perigosas, e duras subidas debaixo de chuva
pela região serrana do Rio, num percurso total de 1.750 quilômetros.

O desafio foi cumprido pelo francês Stéphane Gallet, no projeto Pedal Pacto pelo Brasil, com o objetivo de divulgar o trabalho dos Observatórios Sociais: “Os brasileiros precisam saber que há solução para a corrupção e vou ajudar a divulgar essa causa, pedalando mais de mil quilômetros”, disse no início da jornada, em 18 de outubro.


Gallet é ciclista, proprietário da empresa Halcyon Tours, com sede na França, e costuma fazer doações para causas sociais em diferentes países. Desta vez, escolheu apoiar os Observatórios Sociais, presentes em quase 130 municípios, por entender que o esforço pela transparência e o controle social dos gastos públicos pode transformar a vida dos brasileiros.

“O que aprendi nesse projeto é que cada um pode ajudar do seu jeito. Eu ajudei pedalando porque é o que sei fazer”, relatou o empresário, para um grupo de amigos e voluntários do Observatório Social de Brasília, no último dia 5 de dezembro.

Ele usou uma bike simples, com pouco peso e capas de chuva, lavando a roupa usada para vestir no dia seguinte. Antes de partir de Brasília, às 6h da manhã do dia 18 de outubro, ouviu todo tipo de advertência.

“Você está louco! Vai ser assaltado! Vai ser atropelado!”, contou rindo, com seu sotaque francês e um português
admiravelmente bem pronunciado. Outros torceram o nariz pensando que seu objetivo era apenas fazer marketing para sua empresa.

Afinal, pôde constatar o quanto é difícil mobilizar as pessoas para o combate à corrupção:

“O problema é que o brasileiro só vê a mídia falando dos corruptos, do dinheiro público que foi mal gasto, que já foi desviado e não dá para recuperar”, explicou.

Gallet lembrou que a corrupção e a desesperança não são exclusividade do Brasil. Segundo ele, os franceses amargaram esse sentimento ao saber que a petrolífera, ainda estatal na década de 1980, Elf-Aquitaine, sofreu desfalques durante anos, até que um jornalista descobriu e denunciou o esquema, sem que ninguém fosse preso.

Semente do controle social

Gallet considera que contribuiu para levar “a semente” do controle social por onde passou e ainda não existem Observatórios Sociais.

“Eu me disponibilizei como um macaco de circo para atrair atenção, chegando sozinho numa bicicleta”, comentou, provocando risadas.

Ele enfatizou que basta uma pessoa começar e logo duas, três, muitas se juntarão ao esforço de fiscalizar o uso do dinheiro público. É um processo semelhante ao que viveu pessoalmente. No primeiro dia estava só. Mas
logo outros ciclistas se juntaram a ele espontaneamente, veículos de comunicação passaram a divulgar o pedal, entidades como Rotary, Lyons e associações comerciais se prontificaram a recepcioná-lo. Foi levado a escolas e fez
palestras para jovens e adultos.

Também encontrou dificuldades e momentos emocionantes. Em Cabeceiras, Goiás, ouviu de um pastor evangélico que a pressão era enorme para que não se fiscalizasse os gastos da prefeitura. Por outro lado, ao chegar à cidade de Tiros, em Minas, teve “a impressão de que estava chegando na Finlândia”. Segundo ele, viu uma cidade organizada, com moradores interessados, participativos e uma linda escola rural.

Contente com o resultado de sua aventura cívica, Gallet lembra que a “democracia se faz todo dia”. Não basta votar de quatro em quatro anos e confiar que o eleito vai agir corretamente.

“Se a gente enxergar que o poder público está acima de nós, as coisas nunca vão mudar. Para isso existe a democracia. Os franceses cortaram a cabeça do rei porque ele não estava trabalhando para eles”, disse, citando o
episódio da Revolução Francesa em que Luís XVI foi levado à guilhotina, em 1793.

Para Gallet, o Observatório Social é um jeito diferente de enxergar o poder público. Ao avaliar que o Brasil tem leis fortíssimas e muitos instrumentos para a cobrança de transparência dos poderes públicos, faz um apelo à sociedade:

“Falta aos brasileiros por mãos à obra”.

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