Tema exige cautela por afetar equilíbrio financeiro dos sistemas
Foto: Paullo Allmeida/Arquivo Folha
Folha de Pernambuco
Pagar pelo trajeto é familiar a quem usa táxis ou veículos operados por aplicativos. Quanto mais o carro roda, mais o usuário terá que desembolsar no fim da viagem.
Esse procedimento, entretanto, é alheio aos ônibus urbanos, em que se paga a mesma tarifa, fixa, independentemente se o passageiro vai desembarcar três ou dez paradas após o ponto de embarque. E a explicação é simples: lotado ou vazio, em dias úteis ou feriados, em horários de pico ou de madrugada, o ônibus, como serviço público, têm que estar sempre disponíveis, o que aumenta os custos.

No metrô de Londres (Inglaterra) é preciso validar o bilhete eletrônico na entrada e na saída das estações. A tecnologia é que faz a cobrança proporcional ao trajeto.
Em Buenos Aires (Argentina), a tarifa dos ônibus também é descontada conforme o que o passageiro percorre. Outros exemplos foram apresentados no Seminário Nacional NTU, no fim de agosto, em São Paulo. Diretores de empresas de tecnologia explicaram ferramentas que podem viabilizar isso no Brasil. Seria possível trabalhar com sensores nas portas dos ônibus associados a validadores ou aplicativos de celular. Eles identificariam quando o usuário desembarcou e fariam o desconto automático relativo ao trajeto.
No Grande Recife, o mais próximo que se chega de uma segmentação da passagem são os chamados anéis tarifários. Regulamentados pela antiga EMTU, eles se baseiam na extensão dos itinerários. Nos ônibus que têm até 32 km de ida e volta somadas, é cobrado o Anel A (R$ 3,20). O problema é que, por ser integrado, o sistema acaba gerando situações que beneficiam a muitos, mas afetam alguns.
Alvo comum de reclamações, a linha TI Rio Doce (Circular) só tem três quilômetros de trajeto, mas tem tarifa B (R$ 4,40) por atender a um terminal integrado e possibilitar o embarque em outro ônibus, com itinerário maior, sem que seja preciso pagar uma nova passagem. Ou seja, sua tarifa é razoável para quem vai para longe, mas inaceitável para quem usa o coletivo só dentro do bairro.
Uma saída para beneficiar quem paga por pequenos trajetos seria a tarifa única, com o Anel B nivelado aos outros para baixo. O Grande Recife Consórcio diz que a medida está em análise, sem previsão para ser posta em prática. Já sobre a tarifa segmentada, não há estudos.
No seminário em São Paulo, ainda foi discutida a humanização do embarque, com a retirada da catraca. Nesse ponto, não houve unanimidade. “Há a questão das fraudes, um ponto sensível do setor. Creio que a tendência não é retirar a catraca, mas ter validadores cada vez mais sofisticados”, explicou Milton Silva Júnior, da Empresa 1, do ramo de tecnologia no transporte.