Os mediadores de leituras participaram de cerimônia para entrega das bicicletas
Foto:Bobby Fabisak/JC Imagem
JC Online
Na música Cada Lugar na Sua Coisa, o músico capixaba Sérgio Sampaio transformava em letra uma parte do espírito inquieto da geração mimeógrafo: lugar de poesia é na calçada. Mais do que nunca, em um País que lê tão pouco, levar a literatura a outros espaços, evitar o seu encastelamento, é uma forma de persistir na luta para formar novos leitores. Pensado para democratizar os livros, o projeto A Gente da Palavra iniciou na quinta (29/12) uma nova etapa da sua circulação de obras.

O projeto existia com o mesmo nome, mas em outro formato: acontecia durante as atividades literárias da Secult-PE, com declamações em bairros e na porta da casa das pessoas. Agora, ganhou um formato permanente, com formação dos mediadores, que atuam nos bairros em que moram. “Esta é uma nova etapa do projeto, de aspecto mais estruturado, com jovens das comunidades. É importante porque a leitura fortalece a cidadania e, nesses tempos em que a gente vive, é preciso resistir”, aponta Wellington de Melo, poeta e coordenador de literatura da secretaria estadual.
Entre setembro e outubro, os agentes participaram de uma formação, que vai continuar acontecendo ao longo do projeto. Cada um terá a partir de agora um acervo de 80 livros, com obras de nomes como Adriana Falcão e Valter Hugo Mãe, para emprestar para os leitores dos seus bairros.
Quem ajudou a preparar os jovens foi a mediadora Carminha Bandeira, que já trabalhou com bibliotecas comunitárias no Recife e outras iniciativas de promoção da leitura. “A formação foi uma etapa de descobrir de que autores esses jovens gostavam, entender a identidade do grupo. A maioria já tem experiência com saraus e recitais. Agora é o momento deles irem para as comunidades, uma fase de apropriação do acervo disponibilizado”, explica a mediadora. Os livros são de diferentes gêneros, com presença de obras infantis, romances, volumes de crônicas, títulos de poesia. “É um trabalho para todos. Tem gente que começa dentro de casa, lendo para a mãe que não sabe escrever”, diz Carminha.
ESCRITORES
Cada bicicleta traz o nome inspirado em uma obra de um autor pernambucano, com homenagens que vão de João Cabral de Melo Neto (O Cão Sem Plumas) e Manuel Bandeira (Carnaval) até Lucila Nogueira (A Dama de Alicante) e Solano Trindade (Cantares ao meu Povo) – Ariano Suassuna, Celina de Holanda, Alberto da Cunha Melo, Clarice Lispector, Cancão e Erickson Luna também estão presentes.
As bibliotecas sobre duas rodas e o projeto são fruto de uma emenda parlamentar da deputada federal Luciana Santos (PCdoB), que disponibilizou R$ 250 mil para o A Gente da Palavra.