Gabriel Dias
Folha-PE
O sol que nascia quadrado e anunciava mais um dia inóspito passou a representar o recomeço. As mãos que tocaram em armas são as mesmas que dão contornos delicados a esculturas e brinquedos. Os artesãos são 50 reeducandos de dez unidades do sistema penitenciário pernambucano. O trabalho deles é uma confirmação que, com oportunidade, o ser humano é capaz de mudar. A arte é produzida ao longo do ano. Segue para comercialização em lojas do Recife. Mas até o dia 17 deste mês tem espaço privilegiado no maior evento de artesanato da América Latina, a Fenearte.
No presídio de Igarassu, na RMR, onde 3.682 detentos cumprem pena, nove homens integram o setor. Divididos entre o trabalho na marcenaria e na finalização, os reeducandos produzem brinquedos e artigos de decoração de madeira. Nas mais de 200 pessoas que passaram pelo projeto até hoje, um fator é observado. “A convivência com homens que têm histórias de vidas semelhantes e que desejam um futuro parecido aflora a vontade de mudar de vida”, observa o supervisor do projeto, Josivan Oliveira.
Ressocialização
Em meio à superlotação dos presídios pernambucanos, 1,9 mil detentos são autorizados a trabalhar em regime fechado, segundo a Secretaria de Ressocialização (Seres). Recebem 75% de um salário em mãos. Os outros 25% são depositados em uma conta para sacar após a liberdade. Entre os benefícios de cumprir a carga horária de oito horas diárias, durante cinco dias na semana, está a mudança para um pavilhão diferenciado e a remissão de um dia na pena a cada três trabalhados.
Mas essa oportunidade de trabalhar na prisão pode ser considerada um privilégio: apenas 8% de toda a população carcerária do Estado a tem. “Hoje, 2,5 mil detentos trabalham. Infelizmente, ainda há muita resistência em contratar mão de obra carcerária”, constata o gerente de Qualificação Profissional da Seres, Carlos Cordeiro.
O supervisor de gerência de educação e qualificação profissional da Seres, Josafar Reis, defende a intensificação da atividade profissional dentro dos presídios. “São 30 mil homens recebendo três refeições diárias, além dos gastos com água e energia. Se trabalhassem, poderiam diminuir o custo do Estado”.