Marcílio Albuquerque
Folha-PE
Quarenta dias após ser lançado, o plano de gestão do Sítio Histórico de Olinda, ainda não sinaliza mudanças nas ruas da cidade. Dividido em 20 metas, o documento promete soluções para as questões de gerenciamento do território, mobilidade, transportes e serviços públicos, a exemplo da segurança oferecida à população e a limpeza nas ladeiras históricas.
A medida foi alvo de premiação pela organização portuguesa de urbanismo Update Cities. O anúncio ocorreu durante o fórum Beyond 2020 que segue, até esta sexta-feira (29), discutindo o planejamento das cidades inteligentes e como a tecnologia pode mudar a vida das pessoas. Apesar do reconhecimento, para moradores e turistas é preciso fazer bem mais.

Uma das propostas do plano diz respeito à conservação do casario histórico, com a criação de forças-tarefas para dar assistência a reformas nos imóveis, evitando a descaracterização do patrimônio tombado.
Na prática, não é o que acontece. O produtor Raiony Costa, 27, reside na rua Treze de Maio e reclama. “Acabamos como prisioneiros do que é nosso. Qualquer intervenção acaba esbarrando em muita burocracia”, opinou.
À frente da Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta, Edmilson Cordeiro também reforça esse cenário. “Todo o sistema é falho. Hoje temos pichações nas paredes e ampliações de casas que surgem de madrugada ou nos fins de semana para burlar a fiscalização. Não escapam nem as igrejas, em péssimas condições de preservação. Precisamos de regras que saiam do papel”, afirmou.
A circulação de veículos pesados e o uso das ruas para eventos também é um dos pontos altos do documento. Contudo, ainda é possível ver caminhões circulando desregradamente nas vias estreitas, assim como o estacionamento para carga e descarga. A convivência entre bares e residências também não se mostra harmoniosa. “Não respeitam horários, ocupam as calçadas e as portas e ainda utilizam som em alto volume”, denuncia a aposentada Terezinha Loreto, 72, moradora da ladeira da Sé.
O secretário de Meio Ambiente Urbano e Natural de Olinda, Helvio Polito, reconhece as dificuldades. “Diferente de outras cidades históricas, temos 80% das edificações usadas como residência, o que implica em novos formatos de família e mudanças constantes. São problemas resolvidos a longo prazo”. Segundo ele, as medidas ainda são alvo de estudos. “O plano não é algo que tenha reflexo do dia para a noite”.
Jedson Nobre/Folha de Pernmambuco
"A cidade inteligente é aquela que consegue integrar ações, reduzindo os gastos e trazendo bem-estar aos seus habitantes", define André Gomyde, coordenador do Beyond 2020
Cidade inteligente, onde tudo funciona
O termo cidade inteligente desperta interesse nos gestores e na população. Um lugar onde os serviços funcionam e os cidadãos têm acesso mais transparente ao uso do dinheiro público. O cenário inclui menos congestionamento nas ruas, transporte e moradias de qualidade, assim como o consumo eficiente de energia e água.
À primeira vista, um lugar dos sonhos. Especialistas de várias partes do mundo reunidos, até amanhã, em Olinda, mostram que é possível. O planejamento eficiente é o primeiro passo para consolidar cidades melhores para se viver. Em pauta, a agenda do futuro, com a missão de replicar experiências que vêm dando certo, definindo também novos projetos.
Um dos resultados já sinalizados durante o fórum Beyond 2020 é a criação de frentes parlamentares nacionais e estaduais, voltadas ao uso de tecnologia para a solução de problemas. Mesmo estando entre as dez primeiras smart cities do Brasil, Recife ainda tem o que melhorar. Iniciativas como o Uber ainda aguarda regulamentação - o aplicativo enfrenta a resistência de taxistas na Capital.
Por outro lado, o incentivo às bicicletas, a internet sem fio disponibilizada de graça nos ônibus e nas ruas, assim como o ensino de robótica para alunos de escolas públicas, sinalizam positivamente este caminho.