Éricka Patrícia foi morta dentro de casa, junto com uma vizinha, no mês de junho de 2016, na Zona Norte do Recife
Fernando da Hora/JC Imagem
Ciara Carvalho
JC Online
Do quarto, presa à cama, dona Vanda só ouviu os tiros. Ficou paralisada. Gritos, disparos, silêncio. Os assassinos entraram e fugiram pelos fundos da casa. Quando conseguiu chamar a filha, nenhuma resposta. Só ouviu novamente a correria. Parentes gritando e dois corpos crivados. Em um quarto, a filha, Éricka Patrícia de Oliveira e Silva, 39 anos. Na sala, a vizinha Luzinete Cassimiro Cavalcante, 54. Por problemas de saúde, dona Vanda Ribeiro, 69, não consegue andar. Vive praticamente o dia inteiro em cima da cama. Perplexa, acompanhou a tragédia do quarto. Não quis ver a filha morta. “Prefiro guardar a imagem dela sorrindo, feliz.” Éricka e Luzinete foram mortas no dia 27 do mês passado, no Alto Santa Terezinha, na Zona Norte do Recife. Entraram para uma estatística assustadora: o mês de junho contabilizou 37 assassinatos de mulheres no Estado. É o pior registro desde 2007, quando a série histórica começou a ser acompanhada. Em relação ao mesmo mês do ano passado, os dados representam um salto de 76% no número de mortes.Um extermínio para o qual o poder público ainda não tem explicação.
As primeiras semanas de junho já indicavam que a curva seria atípica. Em 15 dias, 16 mortes. Já era, naquele momento, um número maior do que todo o mês de maio, que fechou em 14 assassinatos. Quando comparada a evolução de um mês para o outro, a diferença é alarmante: 160% a mais de casos de homicídio contra a mulher. A média, desde o início do ano, vinha em torno de 20 mortes, por mês. Um número já considerado alto. O sinal vermelho acendeu. As estatísticas deixaram os gestores perplexos. Com os dados nas mãos, a Secretaria Estadual da Mulher levou o problema, na semana passada, para a reunião da câmara técnica do Pacto pela Vida, programa do governo estadual de enfrentamento de todos os crimes de homicídio no Estado. Sob qualquer aspecto, o retrato é preocupante. Considerando o total de assassinatos praticados em Pernambuco em junho (333 mortes), cerca de 10% tiveram mulheres como vítimas.