Paulo Trigueiro e Priscilla Costa, da Folha de Pernambuco
Há 20 anos a bióloga Flor Maria se arrisca para estudar as aves da Caatinga. A pós-doutoranda em Biologia pela UFPE não se entrega à burocracia necessária para conseguir a companhia de militares durante pesquisas de campo, mesmo portando equipamentos caros como notebook, laptops e câmeras fotográficas. “Ou você desbrava as matas, se expõe, ou vai ficar sempre à mercê da disponibilidade dos policiais, que quase sempre nunca batem com os horários que você precisa”, ponderou. Ciente dos riscos, Flor Maria também compreende que o amanhecer e o fim da tarde, quando os militares estão indisponíveis, são os mais auspiciosos para a pesquisa.

A insegurança também refletiu nas pesquisas de professores e alunos da UFRPE. O Departamento de Ciências Biológicas da instituição deixou de realizar pesquisas e aulas práticas no Açude do Prata, inserido na Unidade de Conservação Dois Irmãos, uma área de 1,2 mil hectares. O acesso fácil e a falta de policiamento torna o lugar vulnerável à violência. Assaltos são frequentes ali. A degradação do meio ambiente, causada pela presença humana, foi outro fator que atrapalhou os trabalhos científicos.
“Tenho que identificar espécies e analisar como está a saúde da floresta sendo pagos por bolsas do Governo, o mesmo que não nos dá segurança para trabalhar. Mas, nesse trecho do parque não dá. É se arriscar demais”, relata o mestrando em Ecologia, Pedro Henrique Albuquerque, 24 anos. Outra vantagem do espaço está na ocorrência de espécies raras. A cobra-cipó, antes de ser vista na mata fechada dali, tinha único registro em Alagoas. Animais ameaçados de extinção são encontrados, como o sapo-do-folhiço.
A insegurança levou alunos e docentes da UFPE, que antes realizavam aulas práticas no Açude do Prata, a migrarem para o Jardim Botânico do Recife, a 12km de distância. O acesso limitado e a segurança por conta dos brigadistas ambientais foi o motivo. É lá, inclusive, onde está a sede do batalhão. “A mata de Dois Irmãos é considerada o quintal da UFRPE. O deslocamento para o Curado prejudica o tempo das aulas”, lamentou o pós-doutor em zooplâncton, Mauro de Melo Júnior.
O pós-doutor em ecologia Antônio Rossano lembrou ainda dos perigos à própria natureza decorrentes da insegurança. “Já passei muitos perigos na floresta. Nos últimos anos, contei mais de 30 tiros disparados por caçadores na Mata Atlântica, fato que estou registrando em artigo científico. A presença deles é um sintoma da falta de policiamento”, analisou. Rossano costuma pesquisar locais privados para garantir a segurança. “Para um único estudo, visitei sete fragmentos de mata diferentes, dentro da Usina Trapiche, com quem fizemos um convênio.”