Aposentada Sandra Arcoverde, de 63 anos, pegou os medicamentos esta manhã na Farmácia de Pernambuco. Foto: Cortesia
Diário de Pernambuco
Após uma campanha de mobilização realizada pelas redes sociais e uma ação na justiça, a aposentada Sandra Marúcia Wandeley Arcoverde, de 63 anos, recebeu na manhã desta sexta-feira medicamento imprescindível ao tratamento pós-transplante de órgãos. Fornecido exclusivamente pelo governo, o micofenolato de 500 mg estava em falta há dois meses. A boa notícia chegou restando apenas cinco dias para que dona Sandra ficasse sem o medicamento que faz com que seu organismo não rejeite os rins e fígado que lhe garatem uma nova vida.
"Nosso drama, parece ter chegado a um final feliz. Estou sem palavras e tomado pela gratidão, a todos que oraram, compartilharam, forneceram contatos, deram apoio e se desdobraram na luta pelo bem estar da minha mãe e, consequentemente, em prol dos outros transplantados", comemorou o agente de viagens Leandro Arcoverde, de 33 anos. Filho da aposentada, foi ele quem levou o apelo à internet para salvar a vida da mãe, de pessoas que vem conhecendo na sua peregrinação em busca de direitos e até de desconhecidos que compartilham com ele o sentimento de abandono e o risco de morte.
Na quinta-feira passada uma ação foi movida junto à 7ª Vara da Fazenda Pública. Na tarde de ontem, o juiz da 7ª vara da Fazenda Pública, Haroldo Carneiro, determinou que o Estado de Pernambuco forneça a medicação imediatamente, intimando o governo do estado, imediatamente, para cumprir a decisão. "Instantes depois dessa decisão a Farmácia de Pernambuco ligou pra minha mãe, pedindo pra ela comparecer lá e pegar o remédio. Não sei se chegou pra todos os transplantados do estado u se já foi por causa da Justiça", acrescente Leandro.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), o lote enviado pelo Ministério da Saúde garante o fornecimento da medicação a todos os pacientes por um período de três meses. O drama vem sendo acompanhado pelo Diario de Pernambuco. Na semana passada, provocada pela nossa reportagem, a Farmácia de Pernambuco informou, por meio de nota que estava com estoque abastecido do medicamento Micofenolato de Sódio. Já em relação ao Micofenolato de Mofetila, a aquisição do produto é feita pelo Ministério da Saúde e um novo lote deve chegar ao estado até esta semana para abastecer todas as unidades da Farmácia de Pernambuco.
A assessoria do Ministério da Saúde (MS), por sua vez, enfatizou que o financiamento, a aquisição, o armazenamento e a dispensação dos medicamentos para transplantados são de responsbilidade da SES. Em nota, o MS acrescentou que entregou no mês de abril a remessa do medicamento Micofenolato de sódio 180 mg e 360 mg para atender os pacientes do estado no segundo trimestre de 2016. "Em Pernambuco, foram entregues 42.360 comprimidos de Micofenolato de sódio 180mg e 192.240 de 360mg. O quantitativo enviado foi o mesmo solicitado pela Secretaria de Saúde para o atendimento aos meses de Abril, Maio e Junho. A próxima entrega está prevista para acontecer em agosto. A pasta informa, ainda, que a entrega do medicamento é feita conforme solicitação e demanda das Secretarias de Saúde dos estados", diz o documento.
"Pernambuco tem hoje mais de dois mil transplantados, mas esse não é o problema. O problema é faltar medicamento para um paciente que seja", desabafa Amaro Medeiros, coordenador da Unidade Geral de Transplantes do IMIP. De janeiro a maio deste ano, foram realizados em Pernambuco 579 transplantes de órgãos e tecidos, 10,29% a mais que o registrado no mesmo período no ano passado. Em 2015, um total de 1.348 pessoas saíram da fila de espera para uma nova oportunidade de vida, vencendo a desinformação e a corrida contra o tempo, graças a generosidade de pessoas fragilizadas pela perda, geralmente inesperada, de familiares.
Batalha - A luta da aposentada Sandra Arcoverde começou há anos quando, após ter contraído esquistossomose, precisou de um transplante de fígado. Na fila por anos, conseguiu a cirurgia há oito. A demora causou desgaste nos rins, motivando a necessidade de mais órgãos novos. Após dois anos de hemodiálise, há três anos, fez mais um transplante. "Há oito anos ela toma essa medicação e sempre aconteceu histórico de faltar o remédio que não se compra nem se manipula. Tem que ser fornecido pelo governo. Mas quando ela precisava ser internada, o hospital fornecia a droga e a gente fazia uma reserva, que até ajudou outros pacientes durante momentos de falta na farmácia".
Desta vez sem estoque, a aposentada e a família temeram uma piora no quadro. Na quinta-feira passada, ela voltou à Farmácia do Estado e foi orientada a procurar o médico para trocar a medicação. “Solicitei ao médico que trocasse por um similitar, mas ele informou que não tem condições. Isso iria alterar o quadro médico dos aproximadamente mil transplantantados, uma vez que a mudança traria o risco de reação do organismo e tempo para adaptação do paciente que já está com as taxas normalizadas", explicou a aposentada.
O coordenador da Unidade Geral de Transplantes do IMIP, Amaro Medeiros, confirma que os pacientes atendidos no local têm sofrido com a irregularidade no fornecimento das medicações imunossupressoras. "Ciclosporina, Tacrolimus, Micofenolato de mofetila, Micofenolato de sodio,Azatioprina, Sirolimus, Everolimus e Predinisona. Todos os transplantados utilizam uma combinação destes medicamentos para evitar que o órgão transplantado seja rejeitado. Esta combinação depende de uma série de fatores particulares do paciente e do, ou dos,órgãos transplantados", afirma. Segundo ele, o IMIP, os médicos e os pacientes têm cobrado do governo a solução deste problema que, até o momento, ainda não teria causado o óbito em qualquer doente da unidade, de acordo com o especialista.